Pandemia, crises econômica e política, ameaças fascistas, caos. O Brasil recente tem testado a nossa sanidade. Vivemos tanta coisa nesses dois últimos anos que o tempo entre a terceira e a quarta temporada de Westworld parece muito maior do que é. Demorei para começar a mais recente leva de episódios por ter esquecido boa parte do que assisti. Meio de má vontade, assisti a vídeos de recap, li sobre o que já ocorrera. Foi preciso certo esforço para retornar ao universo criado por Lisa Joy e Jonathan Nolan, mas valeu a pena.
Em seu quarto ano, a atração da HBO prova mais uma vez que consegue se reinventar e avança a narrativa despertando um entusiasmo que não sentíamos desde The Bicameral Mind, capítulo derradeiro da primeira temporada, a mais robusta de todas.
Os principais personagens ganharam arcos instigantes, causa até dúvida saber qual o melhor. Caleb (Aaron Paul), que outrora entrou na série apático, fez por merecer a sua permanência. Ao lado de Maeve (Thandie Newton), trouxe muita adrenalina. Sozinho, foi responsável por alta carga dramática que funcionou de forma certeira.
Charlotte (Tessa Thompson) – ou Chalores para os íntimos, já que é uma cópia de Dolores (Evan Rachel Wood) que ganhou personalidade própria – foi uma vilã muito melhor do que Serac (Vincent Cassel). A personagem, assim como o seu braço, foi ganhando fissuras que provam o quanto robôs são afetados pelas imperfeições humanas – e conseguem ser tão cruéis quanto nós.
A já mencionada Dolores, ainda que detentora da subtrama menos explosiva, foi uma ótima contrabalança para os demais enredos e, na reta final, provou ser fundamental não apenas na série, mas no mundo deles.
Três personagens subaproveitados na terceira temporada voltaram em boa forma. O Homem de Preto (Ed Harris) teve uma trajetória coesa. Bernard (Jeffrey Wright) sacudiu a poeira e teve papel fundamental. Clementine (Angela Sarafyan) é uma presença sempre hipnotizante e teve melhor espaço, apesar de ainda muito secundária.
Os únicos que não ganharam com a melhora do roteiro foram Stubbs (Luke Hemsworth), nunca de fato um elemento de peso, e Teddy (James Marsden), que voltou apenar para estar a serviço de Dolores, como o habitual.
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Como um todo, a produção conseguiu aliar os antigos enigmas – até fez uma pegadinha temporal – com mais solidez do enredo. Também trouxe ótimas atuações, algo que nunca foi o seu problema, uma direção de fotografia caprichada e efeitos especiais convincentes. Até nos brindou com nostalgia ao voltar para o parque, mas sempre de olho no futuro.
Se esta foi a última vez que vimos Dolores e seus companheiros, ótimo. Se formos brindados com mais uma temporada, melhor ainda.
Nota (0-10): 9