Crítica House of the Dragon S1: é bom voltar para Westeros

Game of Thrones foi um fenômeno cultural inegável. Ainda que sua qualidade narrativa tenha começado a decair após a quarta temporada, a audiência foi crescente até o oitavo e derradeiro ano. Todo mundo queria saber quem sentaria por último no Trono de Ferro.

Não é nenhuma surpresa que tal apelo com o público tenha motivado a HBO a investir mais no universo criado por George R.R. Martin. Assim surge House of the Dragon, série criada pelo próprio Martin e por Ryan J. Condal. O material, que ocorre cerca de 200 anos antes dos eventos protagonizados por Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), resgata um dos capítulos mais sangrentos da família platinada.

Houve certo temor com o anúncio da nova produção. Estaria ela mais próxima dos primeiros anos de Game of Thrones ou da bagunça que foi a reta final? Felizmente, podemos dormir tranquilos.

House of the Dragon, ainda que com problemas pontuais, nos faz lembrar o porquê de amarmos tanto Westeros. É um misto de atuações robustas, cenários maravilhosos, efeitos especiais decentes, ótimos diálogos, trilha musical saudosista no ponto exato, direção competente e coerência do enredo acima de cenas baratas de ação.

O mais interessante é que, ainda que seja um mundo teoricamente dominado por homens, mais uma vez vemos duas personagens femininas tomando a frente em lados opostos. O antagonismo de Daenerys e Cersei Lannister (Lena Headey) ganha contornos mais dramáticos com Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock e Emma D’Arcy) e Alicent Hightower (Emily Carey e Olivia Cooke), já que ambas eram melhores amigas que se afastam com o tempo. D’Arcy, pessoa não binária, gosta de interpretar mulheres e, sim, realmente vai bem nisso. Temos duas dobradinhas competentes em nos guiar entre o amor e a raiva.

O primeiro ano, todavia, teve como ponto mais emblemático a atuação de Paddy Considine, que encarnou o rei Viserys I. O monarca definha com o passar dos anos, doença esta que é hanseníase, conforme revelado pelo próprio ator – até então, parecia ser algo como tétano. Considine consegue dar profundidade a um rei em sofrimento. No momento, é o nome a ser batido na próxima e longínqua cerimônia do Emmy.

Pena que, mesmo com tantos bons atores, ficou difícil se apaixonar por alguém. É interessante ter nuance, mas faltou um Jon Snow (Kit Harington) e uma Arya Stark (Maisie Williams) para amarmos. Rhaenyra é fria demais para termos a mesma empatia. As grandes e constantes passagens de tempo pioram a situação, com muitas trocas de atores. Eu queria ver uma interação maior entre Laenor Velaryon (Theo Nate) e seu amante antes deste tem a cabeça estraçalhada pelo bonzinho tornado diabólico Criston Cole (Fabien Frankel). Também entre Rhaenyra e Harwin ‘Breakbones’ Strong (Ryan Corr), o pai biológico dos três primeiros filhos dela. Essa pressa inclusive fez com que a morte de Luke (Elliot Grihault) seja mais sentida pela dor da mãe do que pela tragédia da criança em si.

O ponto que mais incomodou, entretanto, foi a repetição de diálogos vagos sendo mal compreendidos. Primeiro, Alicent fala sobre Rhaenyra e Daemon (Matt Smith) sem citar este, o que ela Criston a confessar ter transado com a princesa. Depois, Viserys fala sobre a antiga profecia e a rainha entende tudo errado, fato piorado pela seguida morte do monarca sem tempo para desfazer o erro. Teria sido melhor se a rainha mentisse para dar o golpe, sem esse recurso meio capenga.

De qualquer forma, são pontos que não apagam o brilho da série. A Dança dos Dragões começou e promete muitas emoções.

Nota (0-10): 8

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