Crítica Big Boys S1: o melhor amigo hétero

Jack atrasou em um ano sua ida à universidade. Não era sua intenção, mas simplesmente não conseguiu sair da cama no dia que deveria, pois coincidia com o primeiro aniversário de falecimento do pai. Ele tinha a mãe, a avó e a prima para compartilhar a dor da perda, que durante algum tempo foi incapacitante. Quando estava pronto para deixar seu quarto, conheceu Danny, coprotagonista da comédia dramática Big Boys, do veículo britânico Channel 4.

A série é baseada nas próprias experiências de Jack Rooke, criador e narrador do conteúdo. Ele, que é gay, nos apresenta seu mundo de descobertas ao sair do armário, recheado de experiências engraçadas e desastrosas. Dylan Llewellyn o interpreta de maneira afetuosa e apaixonante.

Já Danny é uma amálgama de diferentes amigos heterossexuais que Jack teve – inclusive Jon Pointing, ator que dá vida a Danny, é um deles no mundo real. Tanto o personagem quanto o ator nos cativam em uma narrativa que vai do macho alfa padrão para um jovem igualmente despedaçado. As passagens mais tristes, por sinal, são de Danny, que toma antidepressivo, é rejeitado pelo pai e tem a avó definhando com a doença de Alzheimer.

É um quadro que nos emociona e, em igual medida, diverte. Ainda que seja um pouco britânica demais às vezes, a comédia presente é eficaz e intercala humor universal com referências distantes do nosso cotidiano.

Uma pena que a primeira temporada tem apenas seis curtos episódios. São o suficiente para navegar por todas as tramas presentes, mas poderia ter ao menos outros dois menos focados em avançar a história e mais em apenas acompanhar nossa dupla de desafortunados aprontando ao lado de Corinne (Izuka Hoyle) e Yemi (Olisa Odele), valiosos para a narrativa.

A família de Jack também merece menção, já que as passagens de Peggy (Camille Coduri), Shannon (Harriet Webb) e Nanny Bingo (Annette Badland) estão em sintonia com a dos mais jovens, tratando-se de humor.

Voltando para a dupla protagonista, é bonito ver como Jack constrói essa sua carta de amor aos amigos que, mesmo não integrando o universo queer, são empáticos. Óbvio que o mínimo que se espera de amigos heterossexuais é carinho e respeito. Todavia, em sociedades que nos maltratam tanto, esse mínimo também deve ser valorizado. Não apenas para LGBTQIAP+, mas toda pessoa que sofre alguma discriminação precisa do suporte de aliados, que muitas vezes dão um apoio não encontrado nem na própria comunidade integrada por quem sofre.

Danny, por sinal, também tem suas vulnerabilidades e, ainda que não saiba pedir, precisa de ajuda. O narrador bem confessa que nem sempre foi bom em ver isso. Felizmente, esteve presente na hora certa e assim, um dando suporte ao outro, ambos dão um passo adiante.

Nota (0-10): 7

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