Lá no longínquo ano de 2019, Russian Doll, uma série criada por Amy Poehler, Leslye Headland e Natasha Lyonne, surpreendeu com sua premissa simples e intrigante. Com ares de filme independente, misturou bem discussões terrenas com situações sobrenaturais.
Logo, era grande a expectativa pela continuação. Qual seria o próximo passo dado por Nadia (Lyonne) e Alan (Charlie Barnett)? Ele definitivamente foi inesperado – e, infelizmente, uma completa bagunça.
A produção da Netflix nunca demonstrou tanto apreço pelas regras que regem seu próprio universo criado. Entretanto, por manter uma estrutura pouco complexa, não havia muito do que reclamar no primeiro ano. Já na segunda temporada, o metrô leva os dois protagonistas para diferentes épocas, lugares e corpos, tudo isso sem preocupação em explicar a própria lógica básica.
Temos muitas produções que usam elementos de ficção científica como pano de fundo para questões mais íntimas e existenciais. Um bom exemplo recente é o filme Everything everywhere all at once, de Dan Kwan e Daniel Scheinert, que traz o multiverso para libertar a protagonista e sua filha.
Todavia, seja qual for o gênero da obra, comédia, drama ou qualquer outro, é importante ter uma estrutura sólida para que o público considere crível determinada realidade apresentada. Por exemplo: se alguém viajar no tempo e assumir outro corpo sempre na mesma estação de metrô, aquela pessoa do passado inconscientemente caminhará para aquele ponto antes de ser “incorporada” ou magicamente se teletransportará para lá?
Quanto mais elementos de ficção científica forem acrescentados à trama, maior a necessidade de regras básicas – e isso parece algo supérfluo para as criadoras de Russian Doll, mais preocupadas em manter um cigarro aceso em todas as cenas de Nadia.
Falta cumplicidade e ânimo para acompanhar a jornada de uma protagonista que não está interessada em despertar nossa empatia. Acabamos presenciando uma sucessão de burradas, como levar para o futuro a si mesma bebê. É óbvio que isso daria errado.
Leia a crítica de Russian Doll S1
Para piorar, a produção é completamente negligente com Alan. Seu espaço é pouco e mal explorado. Uma verdadeira catástrofe.
Uma lástima que algo tão promissor tenha dado um giro brusco e virado uma trama que aborrece. Talvez a próxima morte deva ser definitiva.
Nota (0-10): 2