Na primeira metade do século XX, no sertão de Pernambuco, Cabeleira, após ser deixado no meio do nada ainda bebê, é resgatado por Sete orelhas, que o cria isolado da civilização. Já adulto, o protagonista vai à cidade procurar pelo pai adotivo, que desapareceu, e acaba tornando-se o matador de Monsieur Blanchard, francês que domina o mercado de pedras preciosas e é o verdadeiro comandante de uma terra sem lei.
O enredo de O Matador, filme de Marcelo Galvão, não revela nada além de uma aventura violenta e dispensável – exatamente o que é. O primeiro longa-metragem brasileiro de ficção produzido pela Netflix é uma grande decepção.
Vencedora dos Kikitos de melhor fotografia e trilha sonora no Festival de Gramado, a obra tem como principal marca a crueldade que ronda os principais personagens, sem, no entanto, conseguir dar sentido para ela como no caso de Django Livre, do Tarantino, e outras produções emblemáticas. Há um enorme vazio preenchido por um sadismo inexpressivo.
Com O Matador, Galvão mostra um talento limitado já conferido anteriormente. Colegas, película que lhe deu visibilidade nacional ao ter como protagonistas uma dupla de atores com síndrome de down, trazia de positivo apenas a inclusão destes. Seu roteiro pueril era recheado de piadas machistas e LGBTfóbicas, uma verdadeira lástima.
No seu mais atual filme, a situação não é tão diferente. As mulheres estão presentes em sua quase totalidade apenas para serem abusadas, e os dois personagens homossexuais logo acabam mortos e são desprovidos de virtude.
Mesmo se quiséssemos deixar de lado a falta de representatividade, o roteiro não serve nem para uma sessão pipoca que nada acrescenta. Em nenhum momento conseguimos sentir empatia por Cabeleira, que é vivido de maneira correta por Diogo Morgado. Sua trajetória é construída aos tropeços e todas as pessoas que passam pela sua vida ganham poucas cenas. Logo, não há nem como tentar se importar com qualquer coadjuvante, já que eles não têm tempo de tela suficiente para isso.
Monsieur Blanchard (Etiennet Chicot) até tem mais espaço. Todavia, não consegue empolgar. Gringo (Will Roberts), rival mais perigoso para Cabeleira, poderia trazer mais emoção para a história – caso tivesse tempo para isso, claro.
É triste que atrizes como Maria de Medeiros e Mel Lisboa sejam subaproveitadas. Engrossam um elenco que facilmente poderia ser cortado pela metade na esperança de trazer mais consistência para o filme.
Que a Netflix tenha mais sorte da próxima vez e não crie outra produção facilmente esquecível.
Nota (0-10): 3