Crítica Shrill S3: gordofobia no centro das discussões

Após três temporadas, chega ao fim a comédia Shrill, criada por Aidy Bryant, que também protagoniza, Alexandra Rushfield e Lindy West. Um caminho percorrido de modo simpático e honesto, mas sem nunca alçar o voo para o qual parecia ter potencial.

Em seu terceiro ano, que foi desenvolvido sem o intuito de ser o último, a série apresenta uma continuidade das descobertas e do amadurecimento de Annie (Bryant) – a produção foi descontinuada antes da exibição, de modo que alguns arranjos puderam ser feitos na ilha de edição para dar alguma cara de encerramento ao material.

Assim como nas temporadas anteriores, a atração tem sua força a partir da luta da protagonista contra a gordofobia da sociedade. O processo de desconstrução do estigma não ocorre de um dia para o outro. Bom exemplo disso é o encontro desastroso que a personagem tem com Will (Cameron Britton). Ele, que é lindo e carinhoso, é tratado mal por Annie, que pensa que Amadi (Ian Owens) apenas quer uni-los porque ambos estão acima do peso.

Em um primeiro momento, fiquei indignado com a atitude dela. Após dias de reflexão, tornou-se compreensível sua reação, ainda que tenha sido exagerada e rude. O fato é que ela não tirou seu raciocínio do nada. Há anos de preconceito e baixa autoestima que levam a pessoa a agir dessa forma.

Óbvio que, se relarmos em conta que no seu trabalho a personagem pintou um quadro relativamente simpático de separatistas preconceituosos, a doçura de Annie aparenta uma falta de ajuste. Em sua defesa, nossas vidas muitas vezes também são assim – nem sempre equilibradas com os pesos corretos.

Um ponto positivo do último ano foi a aproximação da personagem principal e Fran (Lolly Adefope). Ainda que sempre fossem melhores amigas morando juntas, o roteiro nem sempre se importou em cruzar suas tramas. Isso é algo até frequente em muitas séries, que descolam alguns coadjuvantes do protagonista ao ganharam subtramas próprias. Nem tudo precisa orbitar ao redor de uma pessoa, mas certas relações precisam ser reforçadas para fazerem sentido.

Aliás, Adefope sempre teve um timing cômico perfeito. Vejam quando cantou Shallow na segunda temporada. Foi uma performance perfeita, união de bons vocais com comédia. Bem diferente da performance musical dada por Gabe (John Cameron Mitchell), que foi apenas vergonhosa.

Ainda que nem sempre certeira, Shrill é uma dessas séries que buscam abordar uma perspectiva diferente de vida. Só isso já basta para darmos uma chance a ela. Afinal, se o sorriso de Bryant não te cativar, nada mais cativará.

Nota (0-10): 7

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