Quem lembra do fenômeno chamado Gangnam Style? Primeiro vídeo a atingir a impressionante marca de um bilhão de visualizações no Youtube, a música do rapper sul-coreano Psy foi um presságio do que estava por vir.
O k-pop não demorou a tomar conta da música, com exemplos como BTS e Blackpink. Não só isso, o país asiático foi o primeiro do mundo a ganhar um Oscar de melhor filme com uma obra não falada em inglês, com o incrível Parasite.
A indústria do entretenimento da Coreia do Sul tomou o mundo de assalto – e a série Squid Game, também conhecida como Round 6 no Brasil, é só mais um exemplo do crescimento exponencial de uma nação que percebeu há décadas o potencial da cultura.
Conforme reportagem especial do Uol, o governo sul-coreano mantém um projeto contínuo exportação e desenvolvimento da economia criativa. Diante da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, autoridades anunciaram, entre outras medidas, um investimento de 1,69 trilhão de wones (R$ 7,2 bilhões) em fundos de assistência para apoiar criadores de conteúdo a financiarem seus projetos.
O fenômeno hallyu pode ser traduzido em números. Apenas o grupo BTS rendeu à economia da Coreia do Sul US$ 4,9 bilhões em 2019. O cinema sul-coreano recebeu 41 prêmios desde 2000 nos principais festivais do mundo.
Só que nem tudo é perfeito. Como bem retratado no filme Parasite e, agora, na série Squid Game, o país asiático, ainda que esteja entre as 15 maiores economias do mundo, também é assolado pela desigualdade. Outro problema bastante acentuado, conforme matéria da BBC, diz respeito à falta de mobilidade social: em uma sociedade extremamente estratificada, quem nasce em família com posses e recursos já larga na frente. Na pesquisa publicada pelo jornal The Hankyoreh, 85% dos jovens concordaram com a seguinte declaração: “pessoas que nasceram pobres nunca serão capazes de competir com pessoas que nasceram ricas”.
Como o problema não é local, mas no mundo todo, esse tipo de obra tem apelo para públicos além-mar. Some a isso uma narrativa provocadora, produção caprichada e o alcance da Netflix e não fica difícil entender como Squid Game é uma das atrações mais vistas do serviço de streaming.
Fácil de acompanhar, mas, assim como a sociedade retratada, imperfeita. A mistura de violência e elementos infantis, ainda que justificada ao protagonista Seong Gi-hun (Lee Jung-jae) procurar a polícia, soa como se Hunger Games tivesse passado por doses extras de excentricidade.
O enredo da série, que, aliás, foi acusada de plágio, não é tão diferente de algo que em algum momento da vida já acompanhamos. Faz diferente, mas não necessariamente faz melhor. A trama do policial Hwang Jun-ho (Wi Ha-joon), que sobrevive dias sem ser desmascarado, tem tom pouco plausível.
Ainda assim, a degradação humana vista na tela é chamativa. São necessárias mais de 400 mortes para afastar o aborrecimento de milionários que curiosamente falam inglês. Não apenas eles, milhões de assinantes da Netflix que talvez estejam mais fisgados pelo caráter peculiar de batatinha frita 1, 2, 3 do que pelo apodrecimento da civilização.
Nota (0-10): 6