Crítica The Queen’s Gambit: um poderoso xeque-mate

Para quem já jogou xadrez, inclusive participando de algumas competições locais, fica a impressão de que estamos falando de um esporte ótimo, que desafia a mente de maneira viciante, mas que pode parecer monótono para quem apenas acompanha.

Logo, produzir qualquer atração focada na ascensão de uma enxadrista soa um movimento ariscado. Todavia, The Queen’s Gambit, minissérie da Netflix criada por Scott Frank e Allan Scott com base no livro homônimo de Walter Tevis, mostra ser uma visão equivocada.

Quando há esmero no desenvolvimento de uma produção, qualquer tema pode levar seus envolvidos a um xeque-mate – e tratando-se do show em questão, é isso que ocorre, sem sombra de dúvidas.

Anya Taylor-Joy, que chamou atenção no maravilhoso filme A Bruxa, anos atrás, conduz com graciosidade a trama com sua Beth Harmon, uma garota-prodígio que precisa lidar com os vícios de um mundo nem sempre aprazível. Na versão mais jovem da personagem, ainda no orfanato, Isla Johnston igualmente nos deixa fascinados pela sua atuação.

As duas atrizes são ajudadas por um roteiro perspicaz que naturaliza situações conflituosas e cria seres multifacetados, como a mãe adotiva da protagonista. Marielle Heller, que recentemente dirigiu as elogiadas obras A Beautiful Day in the Neighborhood e Can You Ever Forgive Me?, empresta seu talento a uma matriarca sabiamente construída. Alma Wheatley, assim como Beth, é atormentada por uma vida de agruras. Sua resposta muitas vezes é amarga, mas também sabe transitar para o afeto, ainda que carregado de pontos questionáveis.

As únicas duas jogadas erradas da minissérie dizem respeito a quesitos mais técnicos. Uma ou outra cena, em particular uma caminhada para buscar cigarros no segundo episódio, traz exposição exagerada da luz. Esse problema da direção de fotografia é repetido, sendo que em mais de um momento há iluminação excessiva.

Além disso, os efeitos visuais deixam a desejar. Em especial na cena do hotel na Cidade do México, é claro que as duas personagens estão em frente a um chroma key. Para um projeto que necessita de grandes trabalhos de pós-produção apenas pontuais, esperava-se um cuidado maior com o resultado.

Com isso, perdem-se dois peões – ou seja, peças com menor influência para o resultado geral da partida. A rainha não precisa desse apoio para encurralar o rei inimigo. Com a ajuda de bispos, torres e cavalos, tem êxito no jogo. Nós, torcedores, vibramos com isso.

Nota (0-10): 9

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s