A rainha voltou. Se em tempos mais costumeiros já chamava atenção pelo seu esplendor, durante a pandemia reina insuperável com o rigor estético de sempre e dramas que falam mais alto para um público que bem guarda em sua memória as duas grandes adições da vez.
The Crown, uma série da Netflix criada por Peter Morgan, chega ao quarto ano mais popular e polêmica do que nunca. Com os acréscimos de Margaret Thatcher (Gillian Anderson) e Lady Diana (Emma Corrin), prova ter fôlego de sobra para percorrer a segunda metade de sua correta trajetória.
Corrin, atriz que, assim como sua personagem, é catapultada para o estrelato, chegou para conquistar os corações de quem se via órfão diante de uma realeza na maior parte do tempo apática. Em um papel que provavelmente será o divisor de águas em sua vida, impressiona não apenas pela semelhança física com Lady Di, mas pelo natural carisma.
Em oposição a essa doçura, temos a Dama de Ferro. Um papel forte interpretado com garra por Anderson, que, infelizmente, não convence. Sua primeira-ministra não soa natural. A fala, que realmente aproxima-se daquela de Thatcher, denuncia um esforço que a deixa deslocada. Nós não somos levados pela sua atuação. Pelo contrário, somos parados por ela. Um erro de tom lamentável, já que a série sempre teve destaque pela qualidade do seu elenco.
Um bom exemplo do quão espetacular são nossos protagonistas é Helena Bonham Carter, que encarna a princesa Margaret. Ocorre que, após uma terceira temporada em que roubou a cena, praticamente desaparece desta vez. A exceção fica por conta de The Hereditary Principle, episódio dedicado a ela.
Um ótimo capítulo, por sinal. Mais do que nunca, tivemos diferentes provas do quão cruel a monarquia consegue ser – inclusive com os seus. A descoberta de parentes com problemas mentais serem dadas como mortas para não manchar o nome da família é assustadora.
Leia a crítica de The Crown S3
O pior é essa passagem fazer parte de um quadro amplo mais desolador. A indiferença à paixão do príncipe Charles (Josh O’Connor) resulta em um casamento desgraçado, tempestuoso, nada comparado aos contos de fadas. Ainda que O’Connor traga luz à figura do monarca, fica impossível afastar as trevas que invadem os castelos.
Não que essa vida asséptica da família real já não causasse tristeza em anos anteriores. Todavia, passado o tempo, soa quase desafiadora. O que mais seria preciso para tudo desmoronar?
Nota (0-10): 9