Quem já agiu por impulso em um momento de raiva bem sabe que atitudes tolas podem ser como bolas de neve que descem a montanha, crescem pelo caminho e, ao finalmente atingirem algum ponto de impacto, são capazes de causar grande estrago. Algo que pode começar leve, quase inofensivo, tem o potencial para virar tragédia, ainda mais quando trata-se da colisão de dois mundos já em combustão.
Amy (Ali Wong) e Danny (Steven Yeun), protagonistas da série Beef, uma criação de Lee Sung Jin disponível na Netflix, explodem num simples contato, resultado do acúmulo de dores de uma vida toda. A dupla brilha em cena numa comédia dramática imperdível.
Beef é uma daquelas produções que te fisgam como poucas. Você termina um dos 10 enxutos episódios e logo quer assistir ao próximo. É viciante, pois mistura boas performances, enredo curioso, roteiro afiado e um misto de solidão, raiva, dor, amor e carinho com o qual conseguimos nos ver refletidos de alguma forma em vários momentos. Amy e Danny dão vazão aos seus sentimentos de uma maneira que nós não podemos no nosso dia a dia. Logo, a produção extravasa e potencializa aqueles pequenos conflitos que evitamos por prudência.
Não que eles estejam certos, não estão. Servem, todavia, como válvula de escape para o público, que se vinga dos seus problemas embarcando na ficção.
Yeun, em especial, está brilhante. O ator, indicado ao Oscar pelo formidável Minari, tem se mostrado certeiro nas escolhas de projeto e na construção dos personagens. Após fazer parte do elogiado Nope, está presente em outra atração singular, daquelas com capacidade de se destacar em um universo com centenas de produções televisivas disponibilizadas durante o ano.
Wong igualmente não decepciona. Entrega-nos uma Amy pela qual conseguimos nos afeiçoar, apesar do seu temperamento. Além deles, o roteiro também consegue dar bom espaço para os coadjuvantes, fundamentais para o desenvolvimento da história.
Se até o sétimo episódio, a primeira temporada conseguia nos fazer querer novos atos de vingança, o oitavo apresenta-se como ponto de virada. É fácil dizer “está bem, foram longe demais”. Então, chega o nono capítulo e gritamos “espera aí, agora, sim, eles realmente foram longe demais”. A série surpreende e encerra em alta.
O melhor de tudo é que tantas coisas acontecem que, caso tenhamos uma segunda temporada, fica fácil visualizar uma nova guerra, desta vez dos protagonistas com todo o resto do elenco, que tem motivos de sobra para odiar Amy e Danny. Esperamos muito que essa renovação aconteça e tenhamos novos conflitos no horizonte.
Nota (0-10): 8