Rian Johnson é um nome que cresceu muito nos últimos anos. Do sucesso indie com Looper ao divisivo Star Wars: The Last Jedi. Da primeira indicação ao Oscar pelo roteiro de Knifes Out à segunda, esta vinda pela continuação do filme. Confesso que não morri de amores pela aventura inicial do polido Benoit Blanc (Daniel Craig), mas fui fisgado por Glass Onion.
A mistura de mistério e falação interminável tem o seu charme. Interessado pelas obras de Johnson, nada mais natural que conferir sua nova empreitada, a série Poker Face. Em sua primeira temporada, com dez episódios, acompanhamos a fuga de Charlie Cole (Natasha Lyonne), única personagem com presença constante no material.
Esse é o primeiro problema a ser apontado na produção. Todas as interações de Charlie são fugazes. Não há uma construção sólida de relações humanas na atração, já que no capítulo seguinte a protagonista estará em outro lugar, com outras pessoas.
Os únicos episódios que realmente fazem o arco principal fluir são o primeiro e o último. Os oito demais são extremamente maçantes, pois repetem exaustivamente a mesma fórmula: somos apresentados a novos personagens com conflitos próprios, alguém é morto ou quase morto e voltamos no tempo para saber como Charlie é posicionada na cena do crime, avançando a partir de então para ela descobrir o verdadeiro culpado.
Ao contrário dos filmes, a série não cria mistérios. Sabemos logo o que realmente aconteceu e isso deixa penosa a tarefa de acompanhar a protagonista fazendo tolices como ir falar com o assassino o tempo todo achando que ele também é de certa forma uma vítima na trama.
Há de se ressaltar que Poker Face tem uma estética própria interessante e muitas participações mais que especiais, como de Hong Chau, Judith Light, Ron Perlman e Adrien Brody. Todavia, isso não é capaz de salvar o material. Para pessoas que, assim como eu, gostam de maratonar séries, a repetição dos arcos é pura tortura e não vale esperar pela segunda temporada.
Talvez Rian Johnson seja como certas drogas: só fazem bem quando consumidas com moderação e muito ocasionalmente.
Nota (0-10): 3