Quando estreou, American Horror Story logo se transformou em um fenômeno cultural. Ryan Murphy e Brad Falchuk deram um novo significado à palavra antologia, que se popularizou na televisão não apenas com esta atração, mas tantas outras deles e de outros realizadores.
Mesmo no auge de seu sucesso, com uma segunda temporada realmente assustadora, a atração mostrava pouco apreço para a consistência de suas histórias. Uma rachadura visível, mas ignorada, pois o conjunto da obra era sedutor demais para ser deixado de lado.
A despedida da rainha Jessica Lange foi o ponto de virada, já que a partir de Hotel a produção nunca mais conseguiu emular o poder de outrora.
O décimo primeiro ano, com o subtítulo de NYC, nos faz deparar com a verdade da maneira mais dura possível: estamos diante de um show de horrores no pior sentido. Assusta, mas não devido aos truques do gênero e, sim, por causa da má qualidade do que vemos.
É triste que AHS tenha se tornado uma cópia barata de si mesmo. O enredo, que se passa em Nova York durante o início da epidemia de Aids, chega a ser ofensivo a tantos gays que sofrerem na pela a dor de uma doença incurável, o preconceito da sociedade, tantos velórios esvaziados.
Ao invés de ganhar contornos sobrenaturais que fizessem alusão ao tema, a equipe não soube exercitar sua criatividade e rastejou num lamaçal em que gays matam uns aos outros penetrando pênis, drogas e lâminas afiadas.
O pouco de sobrenatural que vimos foi, mais uma vez, tratado com desleixo. Big daddy, nosso anjo da morte, foi uma valquíria musculosa dispensável. Fran (Sandra Bernhard), que conseguia ver o futuro nas cartas, teve sua trama jogada às moscas.
Não apenas Fran foi ignorada pelo roteiro. Chega a ser ofensivo o que fizeram com Patti LuPone, uma coadjuvante de luxo. Kathy, sua personagem, quase não apareceu e teve zero impacto na trama. O mesmo pode ser dito de Leslie Grossman e sua Barbara, algo que poderia ser reduzido a uma participação especial em um episódio. Todas as mulheres da trama foram altamente negligenciadas, melhor que nem fizessem parte do elenco principal.
Leia a crítica de American Horror Story S8
Se não bastasse isso, os dois últimos capítulos foram um show depressivo para desagradar a todos. Esquecendo que é uma série de terror, tivemos intermináveis sequências de velórios, algo para entediar héteros e dilacerar a comunidade queer, que precisa reviver seus traumas a troco de nada.
Quem dera a antologia tivesse morrido anos antes. Só darei a nota um por pena de algumas pessoas envolvidas, que parecem genuinamente empenhadas em entregar algo bom.
Nota (0-10): 1