A comédia Hacks estreou com vigor no ano passado. A criação de Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky veio para bater de frente com Ted Lasso, outra queridinha da crítica e do público. Foi um embate sem mortos e feridos, já que ambas coletaram prêmios importantes e criaram grande expectativa para a segunda temporada – que chegou e repetiu a sintonia entre a dobradinha.
Assim como a colega britânica, Hacks voltou mais opaca. Todos os elementos anteriores estão ali, mas simplesmente não têm o mesmo apelo. Aquela magia de antes parece ter se esvaído um tanto no ar, assim como o mundo de Harry Potter perde encanto toda vez que sua criadora resolve tuitar.
A série não é ruim, só esqueceu que precisa nos entreter. A jornada de Ava melhor exemplifica o que tem acontecido. A personagem nos reencontra em luto e precisa corrigir burradas. Isso demora alguns episódios, como é natural. Ocorre que se a temporada tem oito, sobra pouco tempo para respirar ares mais arejados. O mais curioso é que esse enredo favorece sua intérprete, Hannah Einbinder. A atriz teve chance de mostrar a que veio e se saiu bem. Conseguir deixar de ser uma mera sombra de Jean Smart.
Esta, aliás, continua sendo o grande trunfo da produção, que não seria nada sem ela. Smart e sua Deborah sofreram neste segundo ano com um roteiro incapaz de nos fazer rir na maioria do tempo. Mesmo assim, estamos diante de um ponto alto inegável.
Outro seriam as participações especiais, como Laurie Metcalf, que está magnífica com seu jeito durão e estranho, e Harriet Sansom Harris, que vem para lembrar os muitos esqueletos no armário de Deborah. São um contraste com o elenco recorrente secundário, perdido na história.
Todo o arco de abuso entre Jimmy (Paul W. Downs) e Kayla (Megan Stalter) é muito ruim, cansativo, enfadonho. Não sei como não conseguem enxergar isso. Enquanto isso, Marcus (Carl Clemons-Hopkins), Damien (Mark Indelicato) e Josefina (Rose Abdoo) são negligenciados.
A sensação que fica é de que quando a história engrena, a temporada acaba. Espero que tenham reservado algo bom para o terceiro ano.
Nota (0-10): 5