Houve uma época que, ao falar de comédia, eu fazia associação direta com sitcom. Nos últimos anos, entretanto, comecei a ligar o gênero a maneiras mais refinadas de produção. Na busca por densidade, muitas dão um passo para o lado e injetam doses consideráveis de drama, borrando linhas imaginárias. The Marvelous Mrs. Maisel, série criada por Amy Sherman-Palladino, é diferente: conflitos e situações dramáticas existem, mas sempre respeitando o propósito principal do material, nos fazer rir.
E consegue isso com êxito. Em sua quarta temporada, a produção continua com diálogos tão afiados quanto sempre teve. Dá para contar nos dedos as tiradas cômicas que não surtem efeito – como Midge (Rachel Brosnahan) batendo nos móveis de um quarto organizado de modo um tanto absurdo.
Confesso que o primeiro episódio do quarto ano é preocupante. A protagonista tem um tombo grande e a situação nos frustra. Todavia, passado esse susto inicial, Midge luta para sair do buraco para onde foi tragada e a jornada nos faz lembrar o porquê de amarmos tanto a série.
Ainda que algumas decisões de enredo possam nos decepcionar às vezes, o roteiro não dá tempo para lamúrias. Realmente não dá. As conversas apressadas causam gargalhadas constantes tamanho brilhantismo de falas rebatidas como se estivéssemos em uma partida de tênis com campeões de grand slam.
Os atletas, por sinal, estão todos em sua melhor forma. Brosnahan nos cativa como poucos. Alex Borstein, que interpreta Susie, é o contraponto perfeito. Tony Shalhoub nos agonia e envolve com seu Abe. Marin Hinkle é tão boa que Rose deveria ter mais espaço na trama. Matilda Szydagis é incrível como Zelda, que igualmente poderia ter mais cenas. Luke Kirby nos seduz com Lenny. O crescimento de Stephanie Hsu e sua Mei foi ótimo. Também temos a habitual participação especial de Jane Lynch, que traz uma Sophie delirante e fenomenal.
Outro personagem que voltou, ainda que breve, foi Shy Baldwin (LeRoy McClain). Foi uma boa decisão colocá-lo frente a frente com Midge. A conversa deles deu uma sensação de que esse arco, que virou uma pedra no sapato de ambos, poderia ser encerrado.
Por falar em arcos incômodos, não sei bem o que pensar do plot envolvendo a sexualidade de Susie. Foi anunciado que a próxima temporada da série será a última. Seria interessante ter uma posição mais nítida sobre ela, já que o discurso de que está voltada ao trabalho e não tem tempo para relações pode indicar muita coisa, inclusive assexualidade.
Leia a crítica de The Marvelous Mrs. Maisel S3
Há algumas tramas esperando um bom desfecho e mal posso esperar pelo quinto ano da série. Se manter a qualidade que teve até então, será um prazer assistir.
Nota (0-10): 8