Sunja é uma mulher forte, tanto que foi a criança a finalmente vingar, para alegria dos seus pais, até então desacreditados na tarefa de manter uma nova vida. Nasceu em uma Coreia anexada pelos japoneses, que reprimiam brutalmente o povo dominado.
A protagonista de Pachinko, série criada por Soo Hugh a partir do livro homônimo de Min Jin Lee, desde cedo precisou enfrentar um mundo de privações. Sua mãe achava que era desnecessário estudar e não aprendeu a ler e escrever. Ainda jovem, viajava da sua pequena ilha para Busan, onde visitava o movimentado mercado para fazer compras. Foi lá que, jovem adulta, encontrou Hansu, o homem que mudaria sua vida, ainda que não permanecesse com ela.
Sunja é o fio-condutor de uma produção brilhantemente escrita, filmada, atuada. Um trabalho poderoso que consegue tornar impactante até mesmo cenas singelas, como uma mãe dando arroz branco para sua filha no dia do casamento desta.
A força dos atores é excepcional, dos coadjuvantes aos principais. Sunja é interpretada por três atrizes na primeira temporada, que tem oito ótimos capítulos. A vencedora do Oscar Youn Yuh-jung vive ela já madura, nos anos 1980. Minha Kim é encarregada dela durante a juventude, quando engravida da relação com Hansu e, desamparada, encontra Isak (Steve Sang-Hyun Noh), com quem acaba se casando. Yu-na dá vida à Sunja quando criança e, apesar do pouco tempo de tela, consegue ser tão marcante quanto as outras duas. São atuações poderosas, dignas de premiação.
Elas estão em conformidade com o restante do trabalho, lapidado com esmero. Há muito resgate histórico no meio da trama, enriquecendo-a mais. O sétimo episódio, um dos melhores desta leva, dramatiza o Grande sismo de Kanto, violento terremoto que matou mais de 100 mil pessoas em 1923.
Outro episódio que merece menção é o quarto, quando Sunja e Isak partem para o Japão. Sem sombra de dúvidas, é um dos melhores do ano. Ainda que tenha uma carga dramática imensa, não cai no dramalhão que tenta induzir seu choro a toda hora, como This is Us. Pachinko consegue ser forte na medida certa. Aliás, tão forte que fica difícil maratonar. Entre um capítulo e outro, precisamos de um tempo para digerir a história.
São existências que fazem o possível para não sucumbir em uma sociedade que não se importa com suas dores. É brutal, é poético, é belo, é visceral.
É uma série que todos devem assistir.
Nota (0-10): 10