Costumo pesquisar o mínimo possível sobre qualquer produção antes de assisti-la. A maioria das vezes, nem ao menos assisto a um trailer. Eu realmente espero ser surpreendido durante o caminho.
Com Our Flag Means Death, comédia criada por David Jenkins, não foi diferente. Embarquei na aventura com o conhecimento de termos piratas como protagonistas; o envolvimento na frente e atrás das câmeras de Taika Waititi, neozelandês vencedor do Oscar de quem sou fã; e algum enredo envolvendo romance queer, sem saber de quem se tratava.
Essa falta de mais informações prévias geralmente não é grande problema, já que as séries costumam nos apresentar a narrativa principal no primeiro episódio, além dos conflitos secundários. Tratando-se de Our Flag Means Death, a situação foi complicada. Demorou metade dos 10 capítulos da primeira temporada para ela dizer a que veio. Pior do que isso: quando a gente entende que a produção gira ao redor do afeto de Stede Bonnet (Rhys Darby), o Gentleman Pirate, e Edward “Ed” Teach (Waititi), o Blackbeard, há num primeiro momento o medo de se tratar apenas de mais um caso de queerbaiting – quando há insinuações de romances LGBTs, mas eles nunca se concretizam.
Apenas na reta final, quando o roteiro disse na prática que era sim um romance, não um bromance, que pude respirar aliviado e melhor aproveitar a jornada. Essa desconfiança, vale pontuar, não é culpa da série e tampouco infundada. Foram décadas de expectativas frustradas para chegarmos neste ponto: dois piratas protagonistas caindo de amores um pelo outro em uma trama que se passa no século 18.
Não apenas eles, mas outros dois casais queer são formados na embarcação. Lucius (Nathan Foad) e Black Pete (Matthew Maher), dois homens; e Oluwande (Samson Kayo) e Jim (Vico Ortiz), um homem e um personagem não binário que é interpretado por um ator não binário.
A naturalidade como essas relações são construídas é muito animadora. Bem verdade, parece crível que uma tripulação composta quase totalmente por homens não apenas tolere, mas veja com bons olhos essa troca de afeto.
A questão do personagem não binário, em especial, agrada. É compreensível que em 1717 não se discuta o tópico. Todavia, não quer dizer que pessoas não binárias não existissem. O que a série faz é descomplicar a questão e trazê-la de maneira palatável para quem esteve alheio a tais existências até então. E funciona bem.
Quando todas as cartas estão postas na mesa, Our Flag Means Death brilha e cativa. Pena demorar para engrenar. A excentricidade vista em tela também precisa de tempo para funcionar. Buttons (Ewen Bremner), por exemplo, transita entre a genialidade e o completo disparate. Sempre tive muita dificuldade para entender o que Wee John Feeney (Kristian Nairn) falava.
Estamos tratando de uma caça ao tesouro com pontos confusos. Entretanto, ao fim uma laranja petrificada pode ser mais recompensadora do que esperávamos.
Nota (0-10): 6