Crítica Dopesick: perversidade capitalista

O lucro acima de tudo. Não importa quantas pessoas morram, quantas famílias sejam destruídas, o quanto a saúde emocional e financeira de uma nação inteira seja prejudicada. A Purdue Pharma, comandada pela família Sackler, lançou o opioide OxyContin com intuito de revolucionar o tratamento da dor. Essa era a imagem positiva que se tentava vender a todo custo. No entanto, desde o princípio, a empresa farmacêutica mentiu ostensivamente para vender o máximo possível uma droga altamente viciante. Criou uma legião de dependentes químicos, devastou regiões e mesmo assim nada abalou sua busca pelo propósito maior, o lucro.

A droga começou a ser comercializada nos anos 1990. À época, já se sabia do seu potencial destrutivo. Mesmo após passar por uma batalha judicial, encerrada em 2007, a empresa continuou suas práticas nefastas. Em 2019, a Purdue Pharma pediu falência em uma tentativa de resolver as mais de três mil queixas criminais contra ela. Com isso, conseguiu dos Estados Unidos uma isenção aos Sacklers e seus sócios de responsabilidades futuras em troca do pagamento de 4,5 bilhões de dólares em dinheiro e doações.

Esse foi o preço por causar centenas de milhares de mortes e deixar milhões de pessoas desamparadas. Parcela dessa desventura foi narrada no documentário da HBO Max The Crime of the Century, que teve direção de Alex Gibney e foi dividido em duas partes.

Recentemente, a história foi ficcionalizada pelo streaming Hulu com a minissérie Dopesick, de Danny Strong. Dividido em oito episódios, o excelente trabalho reforça os tons dramáticos e de horror de uma história real medonha.

O elenco afinado é um grande atrativo. Michael Keaton, que já coletou alguns prêmios pelo papel, vive o médico Samuel Finnix, ludibriado pela empresa farmacêutica e logo visto ele próprio em apuros ao se tornar dependente químico. Kaitlyn Dever interpreta Betsy, uma paciente que quer tratar sua dor após um acidente de trabalho e igualmente afunda-se na dependência. Michael Stuhlbarg encarna o grande vilão, Richard Sackler, com segurança e maestria. Rosario Dawson traz força para a agente Bridget, que tenta responsabilizar a empresa por suas atrocidades. Dawson em especial brilha muito na atração e deveria ter mais reconhecimento pela performance.

Dividida em arcos temporais distintos, a história pode confundir um pouco nas idas e vindas no tempo. Tirando isso, funciona como um perfeito lembrete do quanto o capitalismo consegue ser perverso.

Nota (0-10): 8

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