De um lado temos Deborah Vance (Jean Smart), comediante famosa prestes a completar 2,5 mil shows em sua residência em Las Vegas. Do outro, Ava (Hannah Einbinder), escritora de 25 anos que acabou de ser “cancelada” por causa de um tweet.
A necessidade une as duas protagonistas de Hacks, comédia da HBO Max criada por Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky. Enquanto a primeira precisa renovar seu repertório, a segunda está sem nenhuma perspectiva de trabalho após envolver-se na polêmica online, sendo obrigada a aceitar a proposta feita pelo agente de ambas.
O primeiro encontro não é fácil, mas a veterana consegue reconhecer-se no temperamento forte da jovem e decide contratá-la – a despeito do seu próprio ego, ferido ao perceber que já teve dias melhores.
Em seus dez episódios, a temporada de estreia funciona bem ao trabalhar a aproximação de duas gerações que atritam bastante antes de reconhecer o amor mútuo. Solitárias, elas têm como principal defesa o ataque. Nesse sentido, é reveladora a fala de Deborah, que diz que viemos sozinhos ao mundo e sozinhos partiremos. Seu escudo de proteção é quase intransponível. Felizmente, paramos no quase.
Quando as duas personagens trabalham em conjunto, todos ganham – até mesmo Marcus (Carl Clemons-Hopkins), que tem tempo para estar com o belo Wilson (Johnny Sibilly).
O roteiro da série é o que de melhor podemos ver hoje em Hollywood, tratando-se de comédias. Consegue unir tiradas ousadas sem perpetuar preconceitos batidos. Traz um frescor progressista, ainda que às vezes pareça lutar contra o tempo.
E essa luta é encabeçada pela maravilhosa Jean Smart e sua Deborah. A atriz brilha como poucas ao encarnar uma figura que lembra a memorável Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) de Veep. Ambas conseguem arrancar gargalhadas do público mesmo quando estão carrancudas. Smart tem um timing cômico perfeito e merece ovação – quatro minutos de palmas no mínimo, cinco no máximo, conforme recomendado.
O elo fraco fica por conta de Hannah Einbinder e sua Ava. A atriz não tem a habilidade para elevar uma personagem incapaz de provar seu talento para o humor. O engraçado é que ela surge como uma peça de fundo, sem foco e pouco engraçada em uma atração que, de modo geral, sabe nos fazer rir com facilidade.
Que seu contato prolongado com a dama da comédia lhe dê força. A nós, resta pedir mais Deborah.
Nota (0-10): 8