Crítica Mare of Easttown: excelente drama investigativo

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Há alguns anos, a HBO escreveu uma página no capítulo dos dramas investigativos com True Detective, de Nic Pizzolatto. A primorosa produção estrelada por Matthew McConaughey e Woody Harrelson e dirigida por Cary Joji Fukunaga foi festejada pela crítica e pelo público. O sucesso foi tamanho que o trabalho ganhou continuação – para a nossa infelicidade.

As temporadas seguintes, com distintas histórias, não chegaram nem perto de ter o mesmo impacto. O gênero carecia de uma atração com o vigor de outrora. Ela chegou e atende pelo nome de Mare of Easttown, minissérie criada por Brad Ingelsby.

Dividido em sete capítulos dirigidos por Craig Zobel, o drama é centrado na detetive Mare Sheehan, interpretada pela vencedora do Oscar Kate Winslet. A atriz é a alma do projeto e carrega com determinação as dores da protagonista. Do seu sotaque aos pequenos detalhes em cada cena, como a forma como se alimenta, ela constrói uma figura que, ainda que muitas vezes rude, nos desperta empatia.

Escrito por Ingelsby, o roteiro da minissérie permite a ela nuances nem sempre encontradas em produções do tipo. É um texto que não traz cenas gratuitas e, ao mesmo tempo, estabelece relações complexas com calma. O assassinato de Erin McMenamin (Cailee Spaeny), por exemplo, só ocorre após nós termos uma boa noção de quem é ela e qual é a sua vida. Um capítulo inteiro se passa antes da morte, tempo suficiente para já estarmos ambientados.

E esse ambiente é rico, dolorido e engraçado, assim como a vida cotidiana. Jean Smart, que interpreta Helen Fahey, a mãe de Mare, serve como um bom alívio cômico em várias situações. Esses momentos de descontração são pontuais e não interferem de modo negativo na trama, de modo geral muito pesada.

A personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice) também merece uma nota positiva. Ela, que é lésbica, não tem a sua orientação sexual como fonte de conflito. Claro que em muitos lugares a presença de pessoas queers causa atritos e isso deve ser abordado. Todavia, é tão bonito ver em algumas produções a presença de LGBTQIs já estabelecida e naturalizada. Sinal de que parcela da população, mesmo em uma cidade pequena, já evoluiu.

Os dois pontos discutíveis de Mare of Easttown seriam a presença de Richard Ryan (Guy Pearce) e o desfecho. Tratando-se de Ryan, temos alguém que em nenhum momento parece necessário estar ali – por sinal, faz nascer um triângulo amoroso meio capenga com Mare e Colin Zabel (Evan Peters).

O desfecho lembra Sharp Objects, mesmo que tenham direções diferentes. Pergunto se a reviravolta final era necessária. Até então, mesmo com certa previsibilidade, tínhamos a prisão de um bom candidato a assassino e todos os arcos individuais fechariam com competência. Foi algo inesperado, mas a força da série não reside em grandes surpresas – e sim no quão palpável são as diferentes histórias contadas.

É assunto para uma boa discussão. A série toda é. Vale ser assistida, debatida e recomendada.

Nota (0-10): 9

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