Crítica Normal People: a crueza do amor

A premissa não me chamou atenção, tampouco gostei do título. Tais fatores afastaram-me durante bom tempo de Normal People, minissérie baseada no livro homônimo escrito por Sally Rooney.

O sucesso da obra televisiva, todavia, fez com que eu acabasse rendendo-me ao romance entre Marianne Sheridan (Daisy Edgar-Jones) e Connell Waldron (Paul Mescal), personagens que se apaixonam na escola e vivem as intempéries do amor nos anos seguintes, durante a faculdade.

A primeira parte da obra, que se passa no ensino médio, soa não tão crível. Definitivamente, não consigo ver Marianne como uma menina feia e impossível de ser amada. A protagonista, além de linda, é inteligente e confronta os professores, com personalidade que facilmente atrairia alguma pessoa. Já Connell, por outro lado, talvez nem possa ser chamado de bonito, além de ser tímido. Sua popularidade é alicerçada fundamentalmente no papel de esportista.

Quando saímos da cidadezinha do interior e chegamos a Dublin, por outro lado, as peças parecem assumir posição correta, ao inverterem posições. A partir de então, com a série de infortúnios seguintes, todo o apelo da produção passa a fazer sentido.

Normal People machuca, incomoda. As palavras não ditas por aqueles que amam. Os discursos que saem enviesados. As incompreensões e os temores. Durante muitas cenas, gostaríamos de tomar a posição de um deles e evitar conflitos que, de fora, parecem perfeitamente evitáveis. Quem já teve um grande amor, entretanto, bem sabe que na prática é diferente.

A prática é, muitas vezes, a dor que a série nos transmite. É também o tesão, tão bem coreografado em cena. Edgar-Jones e Mescal avivam uma paixão que necessita toque, suor, prazer.

O amor necessita proximidade, exige contato. Ele também se manifesta, quando necessário, em forma de desapego. Amar integra uma equação complexa – e o poder da atração reside em traduzir bem isso.

Talvez a resistência em conferir esta obra habite também o subconsciente: uma vontade natural de negar sofrimento a um coração que pulsa, ama, espera.

Nota (0-10): 8

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