Um nó temporal, outro em nossas mentes. O drama alemão Dark, criado por Baran bo Odar e Jantje Friese, nos apresentou uma jornada de tirar o fôlego e confundir os mais distraídos. Chegou ao fim com sua intrincada terceira temporada, de densos oito episódios.
As peças foram movidas constantemente no tabuleiro e enfim pudemos entender como todas as idas e vindas criaram um círculo de repetição infinita. A resposta para a origem de tudo foi interessante e satisfatória. Todavia, conseguiu superar as expectativas?
Apenas em parte. É bem verdade que o que mais nos atrai em Dark é seu emaranhamento de mistérios. Entretanto, neste terceiro ciclo ficou realmente muito difícil de acompanhar os viajantes no tempo. Não houve cenas gratuitas, espaço para respirar um pouco e estabelecer os personagens em determinado local e tempo por certo período. Essa desenfreada corrida fez, por exemplo, com que as versões mais velhas de Martha (Lisa Vicari) fossem pouco desenvolvidas. Pior ainda para o filho dela e de Jonas (Louis Hofmann), que apareceu em suas três diferentes versões apenas para matar pessoas, sem nenhuma grande importância para além disso.
Faltou uma edição melhor dos acontecimentos. Tentar avançar a partida sem tantas movimentações das peças. Isso certamente deixaria a jornada mais prazerosa – até mesmo porque ela é tão ou mais importante que a linha de chegada.
Outro apontamento necessário é para a solução em si. A descoberta de Claudia (Julika Jenkins) se deu de maneira frágil. A afirmação dela de que é a primeira vez que avançarão para uma linha diferente é ainda menos convincente. Como pode ter tanta certeza disso?
A série nos apresenta dois mundos principais: um de Adam, outro de Eva. O que ela chama de mundos são, em verdade, realidades paralelas. Na física, há uma discussão sobre a possibilidade de vivermos infinitas realidades paralelas. Ou seja, cada nova decisão que tomamos é feita de maneira diferente em diferentes mundos – e, consequentemente, leva a futuros ímpares, ramificando um sem número de vezes.
Indago o quão crível seria o nascimento de apenas dois mundos de uma ruptura tão agressiva quanto a criação da primeira máquina do tempo. Vale frisar que trago essa discussão apenas porque o tema está presente na atração. Se o drama não tivesse inserido essa possibilidade no fim da segunda temporada, não faria.
Essas mudanças que ocorrem na reta final vão em oposição ao que a série pregava até então. Ela sempre nos provou que querendo mudar ou manter os fatos, eles acabavam ocorrendo da mesma maneira, de novo e de novo.
Indo adiante, gosto da cena final por dois motivos. O primeiro é por dar um encaminhamento feliz para a personagem transexual. É muito simbólico que ela, que apenas sofreu, tenha o seu paraíso. O segundo motivo é que a escolha do nome do filho de Hannah (Maja Schöne) é um indicativo de que, mesmo que mais tarde, a máquina do tempo possivelmente será criada e teremos um ciclo de perdição. Ele se assemelharia aos outros? Teria laços para além da interrupção do acidente na ponte?
Dark já é uma vitória por suscitar tantas discussões. Poucas atrações propõem uma história tão inventiva, audaciosa. Com certeza deixará saudades.
Nota (0-10): 8