Bob Fosse e Gwen Verdon foram mais do que marido e mulher. O amor um pelo outro nasceu em comunhão com a paixão desenfreada pela dança, pelo teatro, pelo cinema, pela arte, pela cultura. Durante décadas, eles entregaram seus corpos e suas almas para a apreciação do público. Hoje, passado bom tempo da morte de ambos, eles têm parcela de suas vidas contada na minissérie Fosse/Verdon, de Thomas Kail e Steven Levenson.
Dois atores magníficos foram chamados para encarnar o casal protagonista da obra, que é dividida em oito fluídos episódios. Michelle Williams resgata Gwen, enquanto Sam Rockwell entrega Bob. A química entre os dois é evidente desde o primeiro momento e torna mágica a colcha de retalhos que acompanhamos.
A história é apresentada de modo fragmentado. Vamos e voltamos constantemente no tempo, recurso que torna a trama mais atrativa. Ao deixar a cronologia um tanto complexa, voltamos a ficar sem saber o que virá no próximo capítulo, incerteza que provavelmente não aconteceria com quem conhece a história dos personagens reais retratados, caso a narrativa fosse linear.
Entre os tantos pontos positivos da atração, gostaria de ressaltar um singelo. O apreço pelos detalhes sempre enriquece qualquer trabalho. Neste não foi diferente. Estabelecer o tempo que falta para a morte de Fosse é curioso, uma maneira peculiar de dar informações adicionais à data dos fatos que virão a serem narrados naquele momento.
Baseada na biografia Fosse, de Sam Wasson, a obra foca mais na dependência que os dois personagens principais têm entre si. Fica muito claro que Bob muitas vezes se via perdido sem o auxílio de Gwen. Um exemplo emblemático é durante a edição de Cabaret, filme de 1972 vencedor de oito estatuetas do Oscar, entre elas a de melhor diretor para Fosse e melhor atriz para Liza Minnelli. Do lado oposto, a dependência era a mesma. Gwen fez o então ex-marido dirigi-la na adaptação teatral de Chicago mesmo que ele não estivesse bem para isso.
Em uma relação tão complicada, cheia de amor, admiração e traição, era necessária a inserção de duas pessoas tão talentosas quanto aquelas retratados na tela – e elas foram achadas, felizmente.
Quatro vezes indicada ao Oscar, Williams nos hipnotiza com sua voz potente e nos desmonta com um sorriso marcante. Há todo um trabalho corporal, de movimentos, que nos faz esquecer de Williams e pensar apenas em Verdon.
O vencedor do Oscar Rockwell não fica para trás. A maquiagem ajuda a compor uma figura com gingado, safadeza e dores aprisionadas. É o artista atormentado e repleto de falhas. Seus erros não o tornam um monstro, eles revelam o lado humano.
Fosse/Verdon é uma obra indispensável para quem gosta de musicais. Também é recomendada para quem não gosta e quer acompanhar um trabalho bem feito e com bom ritmo.
Nota (0-10): 9