Ela é sedutora. Podemos dizer que também é divertida, a seu modo. Muito inteligente, tanto que pode facilmente se aborrecer com as pessoas. Ótima no seu trabalho, apesar de desnecessariamente chamativa. Também é uma psicopata que não pensa duas vezes ao decidir matar alguém.
Villanelle (Jodie Comer) é a vilã pelo qual tanto pedimos – e seu relacionamento com Eve Polastri (Sandra Oh), que a persegue, faz de Killing Eve, uma adaptação televisiva da obra literária Codename Villanelle, de Luke Jennings, uma das séries mais interessantes de se assistir atualmente.
Levado à TV por Phoebe Waller-Bridge, que passou o cargo de showrunner para Emerald Fennell na segunda temporada, o drama certamente soube não apenas manter a qualidade do material na leva de oito novos episódios, como também elevou-o em determinados aspectos.
Oh e Comer continuam muito bem nos papeis que renderam importantes indicações e prêmios para ambas. Esse jogo de gato e rato não teria o mesmo impacto sem duas talentosas atrizes passando tanta força à obra.
O texto continua magnífico enquanto que o enredo, já bom antes, avança para um nível ainda mais instigante. As protagonistas, até então em posições opostas, em determinado momento acabam naturalmente tornando-se parceiras – trazendo novos ingredientes para uma receita já bem elaborada.
O maior problema com relação à série reside, em verdade, fora das telas. Recentemente, Oh deu uma declaração dizendo que não haverá um romance lésbico e os fãs estão tentando transformar a relação delas em algo que não é o que pensam.
Sua fala gerou uma revolta em parcela do público, que acusou a atração de recorrer ao queerbaiting. De fato, o material promocional leva a entender que a tensão entre as personagens principais é muito mais do que uma simples admiração, curiosidade ou algo do tipo. Não só isso, em vários momentos a atração deixa bem claro tal ponto. Villanelle se relaciona com mulheres e quer ficar com Eve, que, por sua vez, inclusive transa com um companheiro de trabalho enquanto comunica-se com a vilã.
Leia a crítica de Killing Eve S1
Até o fim da primeira temporada, até seria compreensível se o elenco dissesse que apenas Villanelle tem um interesse sexual, enquanto que Eve está basicamente fascinada com a forma que sua inimiga age profissionalmente.
Todavia, esta linha foi ultrapassada. Retroceder na história seria bem lastimável – e não por frustrar muitos fãs, mas por realmente ser contraditório. É como se tudo que estivéssemos assistindo até agora fosse uma ilusão. Sabemos, sim, que se tratando de desejo nem tudo é tão claro, preciso. Entretanto, já nos foi mostrado explicitamente que há tesão.
Nota (0-10): 9