A mentira geralmente tem um preço alto a ser pago. Por mais que possa ser, em muitas ocasiões, a escolha mais confortável, as chances de que seja descoberta sempre são mais altas do que imaginamos. Outro problema é que, mesmo se não for descoberta, podemos ser consumidos internamente por ela.
A consequência de contar uma história falsa está no centro da trama da segunda temporada de Big Little Lies, série criada por David E. Kelley. Programada inicialmente para ser uma minissérie, a atração fez tamanho sucesso com a crítica e o público que acabou ganhando continuação.
O maior motivo desse prestígio é a qualidade ímpar das atrizes protagonistas – que não apenas voltaram, mas ainda ganharam a companhia daquela que provavelmente é a maior dama da sétima arte no mundo: Meryl Streep.
Ao viver Mary Louise Wright, mãe do falecido Perry (Alexander Skarsgård), Streep ganhou um papel perfeito para demonstrar porque ela é a maior recordista em indicações ao Oscar. Mary chega em Monterey, na Califórnia, para trazer atritos. Dona de uma personalidade peculiar, acaba por voltar-se contra sua nora, Celeste (Nicole Kidman), para tentar ficar com a guarda dos netos.
Enquanto isso, Madeline Mackenzie (Reese Witherspoon) tentar reconstruir o casamento, que desmoronou após Ed (Adam Scott) descobrir que ela o traiu; Jane Chapman (Shailene Woodley) tem dificuldade para se relacionar amorosamente com alguém por causa dos traumas causados pela violência sexual que sofreu; Renata Klein (Laura Dern) está prestes a falir por causa do marido; e Bonnie Carlson (Zoë Kravitz) está sendo tragada pela culpa de não ter contado à polícia que empurrou Perry.
Entre as Monterey Five, como foram apelidadas, claramente Madeline, a despeito do talento de Witherspoon, é a personagem menos interessante. Não que seja ruim, até mesmo porque melhorou muito entre um ano e outro.
Nesse ponto é preciso destacar que não fui tão fisgado pela trama na primeira temporada. Comecei o segundo ano sem tantas expectativas – e acabei sendo surpreendido de maneira positiva.
O que vemos desta vez parece algo mais distante do que geralmente é contado. A morte e posterior caminhada na praia é a peça que vimos ser encenada. Os conflitos decorrentes daquilo que deveria ser um final feliz é como se fosse um olhar profundo sobre o que acontece quando as cortinas do espetáculo são fechadas.
Leia a crítica de Big Little Lies S1
O que temos agora pode até não ser tão chocante. Todavia, tem nuances mais ricas. É um trabalho mais instigante, com texto escrito sem ser apelativo ou melodramático, com atuações que merecem todos os louros e direção correta de Andrea Arnold, que não se distancia daquilo já visto com Jean-Marc Vallée.
Certamente acertaram ao retornar com Big Little Lies. É improvável que aconteça uma terceira temporada. Entretanto, não seria nada mal se ocorresse.
Nota (0-10): 9