A série 3% nasceu com certa expectativa: era a primeira produção original da Netflix desenvolvida no Brasil. Apesar de alguns pontos a serem melhorados, fez sucesso com o público e garantiu renovação. Além disso, abriu as portas para outras atrações daqui, como a recente Coisa Mais Linda.
Chegou o segundo ano e tivemos uma visível melhora do conteúdo. Mesmo que longe da excelência, a série criada por Pedro Aguilera conseguiu manter um clima de tensão e fez a trama evoluir de modo consistente.
Demos tchau a João Miguel, nome mais forte do elenco, e vimos a ascensão dos jovens protagonistas, principalmente a de Vaneza Oliveira, a forte intérprete de Joana, uma das personagens mais interessantes.
Então chegou o terceiro ano e a hora da verdade. Ainda há fôlego suficiente para nos conscientizar e entreter? A resposta é sim. A terceira temporada marca a consolidação da série como um produto cultural que tem os requisitos necessários para nos envolver.
Agora, temos uma mudança de cenário. Após o acordo obtido por Michele (Bianca Comparato) com o Maralto, foi criada a Concha. Todos são bem-vindos no local, que prega uma filosofia muito mais acolhedora que a abundante região fora do continente.
Entretanto, uma sucessão de acontecimentos faz com que Michele acabe optando por também realizar um processo de seleção, aos seus moldes. A decisão obviamente traz conflitos – e são estes que movem boa parte do enredo deste ano.
Mesmo que pareça retardar o iminente conflito entre os poderosos do Maralto e os desafortunados deixados para trás, a história não passa a sensação de ser mera enrolação. Pelo contrário, é encaixada como um passo natural para o estopim do conflito maior.
Claro que há muitos pontos de desleixo no roteiro. Em nenhum momento é explicado como ocorre o erguimento tão veloz de uma estrutura complexa em meio ao nada. Tradando-se de pontos mais específicos, por exemplo, há uma cena onde Joana e Michele escondem-se atrás de uma árvore morta que claramente não omite seus corpos. É uma passagem realmente bem ridícula.
Outro ponto que soa estranho refere-se à subtrama de Rafael (Rodolfo Valente). Ele era influenciado a cometer atos ruins a partir do dispositivo que tinha implantado atrás da orelha. No entanto, mesmo após este ser retirado, acaba sofrendo ao escutar o som gerado pela equipe de Elisa (Thais Lago).
Ou seja, há pontos mal explicados na história – ou ao menos mal compreendidos pelo crítico. Não causam grande aborrecimento, mas são graves o suficiente para não passarem despercebidos.
Por outro lado, é importante destacar a melhora dos efeitos especiais, bem como da fotografia e dos figurinos. As engrenagens foram azeitadas e esperamos que a produção não sofra com a maldição da terceira temporada na Netflix. Mais do que nunca, queremos ver o Maralto sucumbir.
Nota (0-10): 8