Costumamos dizer que menos é mais. Ou seja, no mundo das séries reduz-se o número de episódios para, consequentemente, aumentar a qualidade do material. Uma premissa válida em muitos casos. Todavia, falha em outros. Um exemplo recente é Game of Thrones, que tentou condensar uma trama muito complexa em lamentáveis seis capítulos e não teve êxito. Outro é Black Mirror, que abandonou os seis episódios que havia adotado ao ir para a Netflix e voltou aos antigos três por ciclo em sua quinta temporada.
A produção de ficção científica criada por Charlie Brooker já nos presenteou com grandes momentos. Desde o seu piloto, The National Anthem, que trouxe o primeiro-ministro britânico em uma posição nada confortável, vimos uma enorme variedade de temas pulverizados em histórias quase sempre muito inventivas – atributo que mais faz falta hoje.
O quinto ano é aberto com Striking Vipers, uma história de amor gravada em São Paulo. Apesar de seu desenvolvimento um tanto insosso, o material ainda é o que mais se aproxima daquilo que tanto buscamos ao assistir Black Mirror: a possibilidade de refletir sobre as consequências da inserção de novas tecnologias.
No enredo, Danny (Anthony Mackie) é casado com Theo (Nicole Beharie) há anos. Certo dia, Karl (Yahya Abdul-Mateen II), um antigo amigo, convida-o para experimentar um novo jogo de luta. Imersos na realidade virtual, onde usam avatares de sexos opostos, acabam transando. A relação sexual é repetida e logo a situação torna-se conflituosa. Afinal de contas, eles são bissexuais ou gays? Traição virtual tem o mesmo peso que física?
Black Mirror costuma reservar um espaço para relações amorosas. Apesar de Strinking Vipers não animar muito, ao menos parece carregar a essência da produção. Logo, vale conferir.
Após isso, entretanto, tomamos um banho de água fria. Smithereens começa carregado de tensão, mas logo fica monótono. Embora tenha a ótima atuação de Andrew Scott, que pode ser indicado a alguns prêmios pelo papel de Chris Gillhaney, o enredo acaba desdobrando em algo tão simplório quanto uma propaganda do Detran. A moral até pode ser boa. No entanto, esperamos bem mais do que isso de uma atração que é reconhecida por ser ousada.
A despeito do papel determinante do uso da tecnologia para o desenrolar dos fatos, não há nada de surpreendente, disruptivo. É uma ação que poderia estar inserida em um segmento de qualquer novela das nove.
Leia a crítica de Black Mirror Bandersnatch
Por fim, chegamos ao capítulo mais badalado da temporada: Rachel, Jack and Ashley Too. Todo burburinho se dá principalmente pela participação de Miley Cyrus. A atriz e cantora desempenha seu papel de maneira mediana, sem comprometer nem brilhar. Está em sintonia com o material em questão, que em nenhum momento realmente empolga.
Leia a crítica de Black Mirror S4
Acaba sendo um fim agridoce para um ano esquecível. Felizmente, levando em conta o formato, a atração pode facilmente se reerguer. Basta um empenho a mais da equipe criativa.
Nota (0-10): 6