Muito tempo passou entre a primeira e a segunda temporada de Fleabag. Tanto que de lá para cá Phoebe Waller-Bridge, artista brilhante que criou e estrela a produção, foi reconhecida como um dos grandes nomes da indústria cultural na atualidade. Ela não apenas deu vida a Killing Eve, outro grande sucesso, como também, por exemplo, está colaborando no roteiro do novo filme de James Bond.
A vida teve uma considerável mudança não apenas para ela, mas também para Olivia Colman, que interpreta a madrasta da protagonista na série. Com The Favourite, de Yorgos Lanthimos, Colman venceu o Oscar de melhor atriz. Além disso, foi escolhida para encarnar a rainha Elizabeth II nos anos três e quatro de The Crown – papel que tem tudo para lhe render mais uma chuva de elogios e prêmios.
Com nomes tão bons envolvidos na atração, dificilmente poderíamos ficar decepcionados com a nova leva de seis episódios. E, de fato, não ficamos. Assim como na primeira temporada, que nos arrebatou com um texto franco, divertido e emocionante, novamente somos fisgados pela comédia dramática.
A cena de abertura já é prenúncio de que caminharemos por um trajeto não convencional. Ao declarar, ensanguentada, no banheiro de um restaurante, que esta é uma história de amor, Fleabag nos prepara para o que virá dali para frente.
Nesse mesmo estabelecimento, durante o jantar, temos ao redor da mesa todos os personagens principais. Além das duas atrizes já mencionadas, ainda estão Sian Clifford, que interpreta Claire, a irmã de Fleabag; Bill Paterson, o pai delas; Brett Gelman, que faz Martin, o marido de Claire; e Andrew Scott, adicionado ao elenco no papel de padre.
O último, por sinal, é o novo interesse romântico da protagonista. Tratando-se dela, claro que se apaixonar não seria uma tarefa tão fácil. Para nossa sorte, não é apenas difícil, mas também hilária, reflexiva, sexy e triste.
O homem que irá oficializar a união do seu pai com a madrasta precisa lidar não apenas com a tentação do próprio desejo, mas também com Fleabag, que está perdida e precisa de ajuda. A culpa que ela sente pela morte da melhor amiga a consome e o religioso surge como a figura perfeita para salvá-la da dor.
As nuances dessa e das demais relações de afeto na série são fascinantes. Um bom exemplo é aquela construída entre as irmãs – aliás, Clifford está perfeita no papel de Claire –; outro é a improvável amizade entre a protagonista e o gerente de banco (Hugh Dennis) que a chamou de “slut” na primeira temporada. Nada é tão cristalino no mundo real, que tampouco é feito de mocinhos e vilões.
Todos esses fragmentos tortos e tragicômicos tornam-se palpáveis, aproximam-se das diversas verdades que vivemos. Em meio a essa crueza real, ainda sobre espaço para poesia – afinal de contas, a raposa do desejo continua a perseguir o padre e talvez o fim que vimos não seja tão melancólico quanto parece.
Nota (0-10): 10