Crítica Veep S7: opressores expostos ao ridículo

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Uma metralhadora de impropérios. Diálogos acelerados desabando toneladas de merda sobre nossas cabeças. Cenas caóticas que avançam uma campanha aos trancos e barrancos. Situações constrangedoras tão bizarras quanto a realidade.

Veep chega com vigor em sua sétima temporada para encerrar um ciclo extremamente vitorioso. O principal trunfo da comédia da HBO foi, durante sua jornada, mostrar o quanto é possível transgredir sem mirar num alvo vulnerável. Ao fazer o oposto, ou seja, expor ao ridículo quem oprime, a atração demonstra o quanto é possível ser engraçado, crítico e alucinadamente sem noção – tudo ao mesmo tempo, com doses cavalares de delírios que poderíamos acompanhar tanto na produção fictícia quanto nos noticiários do dia a dia.

Muito do que vemos ocorrer recentemente foi introduzido na produção de maneira extremamente eficaz. A intromissão da Rússia na eleição norte-america para favorecer Trump deu espaço, na ficção, para a ajuda da China na eleição partidária disputada por Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus), nossa pequena grande protagonista. Esta, por sua vez, continua louca na medida certa.

Louis-Dreyfus despede-se de uma personagem que merece ser imortalizada na história televisiva. Selina catalisa todo esse poder destrutivo que ronda a equipe igualmente (in)competente que a cerca. Selina é o descaso pelo próximo, a fúria desmedida, o lamentar oportunista, a inabilidade com verniz de sabedoria. Louis-Dreyfus sempre nos guiou com maestria pelos arcabouços da política. Fez por merecer todos os prêmios e as indicações que teve pelo papel.

Igualmente merecem ser lembrados Tony Hale, que fez nós nos apaixonarmos por Gary, ajudante que foi fiel à Selina até mesmo após ser traído de maneira tão vil por ela; Reid Scott e seu Dan Egan, cafajeste que, apesar de diminuído frente à força dos demais, ainda vale devido reconhecimento; Anna Chlumsky, que nos entregou uma perfeita Amy Brookheimer; Matt Walsh, o Mike McLintock que teve a oportunidade de parodiar a cena do professor interrompido pelos filhos enquanto dava entrevista para a BBC; Sarah Sutherland, a Catherine, filha de Selina que sofre com o descaso da mãe; e Clea DuVall, a austera e divertida Marjorie Palmiotti.

Leia a crítica de Veep S6

É preciso fazer um apontamento especial para Timothy Simons e seu Jonah Ryan. Jonah nunca foi um personagem para se morrer de amores. Como é um verdadeiro monumento à estupidez, entretanto, sua presença veio a calhar. A participação dele na corrida eleitoral e o desenrolar dos fatos têm muitos paralelos com a realidade. O que vemos, em ambos os cenários, é um culto doentio à burrice por parcela dos candidatos e eleitores.

Selina entendeu bem esse movimento e beneficiou-se dele. Logo, jogadas como proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo, mesmo tendo uma filha lésbica, um caso que faz alusão à história de Dick Cheney, são interessantes para a narrativa.

Todas essas referências a situações ocorridas tornam ainda mais atrativo o material conduzido com esmero por Armando Iannucci, criador de Veep. A gravação em estilo que recorda o documental é a cereja de um bolo muito saboroso. A última fatia foi entregue. E todas estavam no ponto certo.

Nota (0-10): 10

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