Crítica Coisa Mais Linda S1: beleza, força e artificialidade

Ao se mudar para o Rio de Janeiro, Malu (Maria Casadevall) descobre que foi roubada e abandonada pelo marido, que sumiu. Sem saber exatamente como reagir, ela tem a ideia de abrir um clube de música dedicado à bossa nova. Para isso, conta com a ajuda da recém conhecida Adélia (Pathy Dejesus), mulher negra que vive no morro e luta diariamente para sustentar a filha; Thereza (Mel Lisboa), jornalista que almeja maior presença feminina e o fim do machismo na Redação onde está; e Lígia (Fernanda Vasconcellos), que tem o sonho de ser cantora profissional.

A história delas já seria complicada nos dias atuais – e é pior na época retratada, o fim dos anos 1950. O quarteto precisa de muita força para resistir aos ataques de uma sociedade que desconsidera suas existências. Nesse embate reside o poder de Coisa Mais Linda, série brasileira da Netflix criada por Giuliano Cedroni e Heather Roth.

O material chama atenção logo de início pela sua reconstituição caprichada, com figurinos bem desenhados, lindos cenários e cenas externas de tirar o fôlego. A fotografia, com sua palheta de cores quentes, traz a sensualidade aliada à volta ao passado. Tecnicamente, esta, que é a quarta produção original brasileira do serviço de streaming, sai-se bem melhor que 3%, O Mecanismo e Samantha!.

O problema, todavia, é que Cedroni e Roth conseguem tirar parcela do brilho ao construírem situações pouco inventivas e diálogos extremamente artificiais – diria até mesmo vergonhosos em alguns momentos, quase tão didáticos quanto os de novelas. O elenco faz o que pode com o material, mas também não é ajudado pela direção do trio Caíto Ortiz, Hugo Prata e Julia Rezende.

A força das mulheres protagonistas muitas vezes esbarra em tramas pobremente trabalhadas. Casadevall, ainda que muito empática, não é capaz de evitar que reviremos os olhos diante dos rompantes de menina mimada de sua personagem. Claro que é uma etapa pensada para o confronto com a realidade, que ganha as feições principalmente de Adélia, que não nasceu com os mesmos privilégios. Entretanto, Malu parece aquela protagonista que ficaríamos mais felizes em ver há dez, vinte anos.

Hoje, quem deveria brilhar mais é Adélia, que carrega consigo um espírito mais poderoso e iluminado. Ou Thereza, que poderia ganhar uma série só sua, tamanha importância de suas subtramas. Esta, aliás, parece ser menos afetada pelo texto capenga – que consegue, por sinal, até mesmo tirar o impacto da violência doméstica ao seguir o passo a passo dos abusos como se fosse uma fórmula genérica.

Ao redor delas, temos ainda os coadjuvantes Helô (Thaila Ayala), Capitão (Ícaro Silva), Augusto (Gustavo Vaz), Nelson (Alexandre Cioletti), Roberto (Gustavo Machado) e Chico (Leandro Lima). O último é o principal responsável pelos números musicais da atração. Por mais que a trilha beire a perfeição, é preciso apontar que o fato de ser claramente perceptível que os atores estão dublando traz incômodo. Para nossa sorte, aparentemente não há o que a bossa nova não consiga salvar.

Nota (0-10): 7

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