Crítica Riverdale S2: adolescência alucinada

A matemática era um tanto simples: se Chilling Adventures of Sabrina, que estreou há pouco na Netflix, é uma agradável surpresa, Riverdale, série igualmente comandada por Roberto Aguirre-Sacasa, também poderia ser.

Com esse pensamento em mente, passei a assistir ao drama adolescente da CW. Em sua primeira temporada, que é enxuta, há muita coisa que funciona, de fato. Além da fotografia, da direção de arte e da trilha musical em um nível elevado, o roteiro escapa de alguns clichês do gênero e os personagens não despertam antipatia – bons exemplos são Betty Cooper (Lili Reinhart), que não faz as vezes de mocinha ingênua, e Cheryl Blossom (Madelaine Petsch), vilã um pouco mais multifacetada que se espera de uma atração teen.

Então veio o sucesso, o número estendido de episódios e o descarrilamento do trem. O novo mistério traz uma onda de crimes e a crescente violência é traduzida em uma banalização da mesma. É interessante ver a naturalidade com que os norte-americanos flertam com a loucura em situações completamente descabidas. A utilização de armas de fogo por adolescentes, por exemplo, como se não fosse nada. Os assassinatos com os quais estão envolvidos.

Você pode argumentar, claro, que é ficção. Não passa de uma fantasia que potencializa o absurdo em busca de audiência. Mesmo compreendendo isso, o que enxerguei, durante longos 22 capítulos, foi nada menos que a estúpida glorificação de um estilo de vida vendido como divertido, sexy e emocionante.

Justiceiros burros que se acham super-heróis são sempre problemáticos – e nesse quesito entra o protagonista Archie Andrews (KJ Apa), que rapidamente termina com a nossa paciência ao escolher estar ao lado de Hiram Lodge (Mark Consuelos), o bad boy com pinta de galã que é pai de Veronica (Camila Mendes).

Você percebe claramente que ocorrerá uma espiral de erros cada vez mais graves e, no fim, tudo será justificado como uma insensatez de um jovem que viu o seu pai, Fred (Luke Perry), quase morrer. A escolha fácil de um texto que não teme passar vergonha ao inserir uma subtrama envolvendo um suposto agente do FBI. Tudo muito ridículo, mas com cara de assunto sério.

É tão louco quanto Jughead (Cole Sprouse) integrar o grupo marginalizado do seu pai e promover mutilação em uma mulher. Ele, por sinal, faz um grande serviço para a cidade com seu jornalismo estudantil e, assim como os outros, nos faz esquecer que estamos falando de adolescentes.

Para contrabalancear, ao menos há alguns discursos progressistas em meio a esse emaranhado de loucura. No fim das contas, talvez essa seja a série perfeita para o mundo alucinado que vivemos.

Nota (0-10): 4

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