Atypical, comédia dramática criada por Robia Rashid, é uma daquelas séries que conseguem nos envolver facilmente. Com episódios rápidos e trama costurada de maneira leve, você consome todo o material sem nem mesmo perceber.
Focada na família de Sam (Keir Gilchrist), a produção aborda não apenas o autismo do protagonista, mas a sexualidade da irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) e os problemas conjugais dos pais Elsa (Jennifer Jason Leigh) e Doug (Michael Rapaport). Perifericamente, ainda temos a terapeuta Julia (Amy Okuda), a estudante Paige (Jenna Boyd) e o jovem Zahid (Nik Dodani), todos ligadas ao personagem principal.
Em sua segunda temporada, que tem 10 capítulos, a atração dá poucos passos adiante e mostra mais claramente a fragilidade de alguns aspectos do roteiro. Por um lado, há uma melhora ao se tratar de inclusão. O grupo que Sam frequenta, por exemplo, é composto por pessoas que realmente têm autismo na vida real.
Por outro lado, há muito foco em personagens que não têm a capacidade de despertar nossa empatia. Rapaport nos apresenta um Doug sempre em marcha lenta, sem muito ânimo e nada de carisma. Leigh, que é uma ótima atriz e recentemente brilhou em Patrick Melrose, não consegue salvar Elsa, que ganha arcos cada vez piores. Sua ação superprotetora com relação ao filho é por vezes indignante e suas atitudes para voltar com o marido são tristes. Sinceramente, para que fazer ela praticamente rastejar para reatar com ele? Em nenhum momento a série soube trabalhar uma identidade de união imprescindível dos dois. Tanto que agora parece ideia muito melhor Elsa simplesmente partir para outro relacionamento ou, melhor ainda, buscar a felicidade de maneira independente.
Igualmente castigada por um enredo fraco, temos Casey. Ela vai para a nova escola e tem dificuldade em adaptar-se ao diferente meio. Nesse processo amplo de transição, acaba aproximando-se de uma colega. Descobrir-se apaixonada por outra pessoa do mesmo gênero rende uma boa história. Todavia, o caminho para chegar até ali é trilhado de forma precária.
Essas ramificações do enredo favorecem Zahid, que ganha espaço com o seu humor mais afiado, desfavorecem Julia, que parece perdida na trama, sem atuação profissional envolvida ou próxima o suficiente para ser amiga, e, infelizmente, deixam de lado Paige.
A colega e interesse romântico de Sam é de longe a figura mais querida da atração. Ela preocupa-se com ele e é uma pena que tenha sido tão negligenciada durante todo o segundo ano. O pior é que com a formatura e ambos dando continuidade aos estudos, é possível que ela tenha ainda menos espaço – o que seria uma verdadeira lástima.
Por mais que continue uma boa opção para relaxar no fim de semana, Atypical mostra-se, com esses problemas, ainda sem a maturidade suficiente para evoluir enquanto produto televisivo. Tomara que isso mude.
Nota (0-10): 6