Crítica The Good Place S2: paraíso narrativo

Deus, diabo, céu e inferno são criações humanas que movimentam o imaginário de bilhões de pessoas ao redor do mundo. Concepções presentes no nosso cotidiano, nada melhor do que adaptá-las de uma história de ficção para outra, subverter algumas regras, pregar truques no espectador e modelar um produto com ares menos antiquados.

A comédia The Good Place, uma criação de Michael Schur, leva-nos para o mundo pós-vida e faz uma pergunta que invariavelmente nos atormenta em algum momento: o que é ser bom?

Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), mulher que não pode ser considerada exatamente um modelo de bondade, acaba indo parar no paraíso aparentemente por um erro dos seus administradores. Não somente ela. Jason Mendoza (Manny Jacinto), jovem que definitivamente não tem como ponto forte a sabedoria, é confundido com um monge que fez votos de silêncio.

Na tentativa de serem pessoas melhores e merecerem continuar onde estão, ambos assistem a aulas de ética com Chidi Anagonye (William Jackson Harper), homem apresentado como alma-gêmea de Eleanor. Michael (Ted Danson), que comanda o local com apoio da apaixonante Janet (D’Arcy Carden), também dá uma companheira para Jason. Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil), pessoa mais frívola, é a última peça-central deste tabuleiro muito agradável de se assistir.

Se na primeira temporada os protagonistas sofriam para evoluir, nesta segunda, quando já descobriram o grande segredo de não estarem exatamente onde pensavam, são movidos por uma dinâmica completamente diferente.

A atração não se acomoda e mostra como é possível manter nossa curiosidade com um roteiro cheio de reviravoltas consistentes. Ao contrário de comédias como Ugly Betty, que freiam o processo de amadurecimento dos protagonistas e andam em círculos por temerem a linha de chegada, aqui acompanhamos uma história que busca, ao menos até agora, sempre dar passos em frente – e não no mesmo lugar.

O texto é ajudado, claro, por Bell, que veste muito bem sua Eleanor. A atriz mostra um resultado positivo ao atuar de maneira mais contida, caminhando no ponto correto para ser crível seu coração bondoso revestido por camadas de maldade criadas pelo convívio em sociedade.

Ela tem a ótima companhia de Danson, o demônio que mais amamos. Sua crise existencial é um dos pontos altos deste ano. Faz-nos rir além do habitual para uma produção que investe num humor sutil, percebido mais em referências espaçadas em diálogos do que em ações diretas.

É interessante como os personagens principais têm personalidades muito bem estabelecidas e diversas. Isso não quer dizer que todos consigam nos encantar com suas particularidades. A indecisão de Chidi é por vezes bem irritante e a falta de noção de Jason também incomoda. Todavia, são pontos ofuscados pela qualidade do resto do material, uma dica perfeita para relaxar após um dia infernal de trabalho.

 

Nota (0-10): 9

1 comentário Adicione o seu

  1. Eu adoro essa série! Fiquei com medo de a segunda temporada não ficar à altura da primeira, que teve aquele final sensacional, mas foi tão sólida e tão consistente. E deixou tudo engatilhado pra uma terceira temporada muito original e que explora um território novo naquela narrativa. Muito bacana!

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