Crítica La Casa de Papel S1: diversão garantida

Tóquio, Rio, Moscou, Berlim. São nomes de cidades famosas e na minissérie La Casa de Papel, produção dividida em duas partes, com a primeira já disponível na Netflix, também são os codinomes de alguns dos assaltantes que invadem a Casa da Moeda da Espanha e fazem mais de 70 reféns.

Sob o comando do Professor (Álvaro Morte), oito criminosos tomam o edifício para executar um plano ousado após cinco meses de treinamento. A atração começa com ritmo ágil e consegue manter o fôlego sem oscilar muito em sua qualidade.

Ao contrário de atrações como Orphan Black, que sacrificam o roteiro em detrimento de ação constante, aqui a narrativa não sofre tantas ranhuras. Claro que a premissa é a grande responsável por isso. O fato de tratar-se de uma minissérie, ou seja, produção menos suscetível a arcos dramáticos desnecessariamente longos, também tem grande peso.

Mesmo que consiga se afastar de algumas inconsistências, não quer dizer que ela esteja livre de pontos desfavoráveis. Há pouco espaço para o desenvolvimento da maioria do elenco, que é numeroso, e quando ocorre nem sempre é satisfatório. Tóquio (Úrsula Corberó), nossa narradora, tem como trama secundária um romance com Rio (Miguel Herrán), algo realmente banal. Quando as brigas do casal são deixadas de lado, ela vira uma coadjuvante como qualquer outra.

O protagonismo vai para Raquel Murillo (Itziar Ituño), que chefia o grupo policial e nos oferece uma gama maior de informações. Da sua fragilidade e solidão aos problemas de saúde da mãe, passando pelo embate judicial com o ex-marido, que praticava violência doméstica, e a necessidade de proteger a filha. A partir dela desvela-se um machismo incutido em práticas cotidianas. Cercada por homens, certamente não seria desacatada como foi mais de uma vez caso não fosse mulher.

Mesmo que aborde mais superficialmente, a minissérie dá espaço para a crítica social, principalmente o sexismo. Também está antenada nos crimes virtuais praticados por jovens. No primeiro episódio mostra Alison Parker (María Pedraza) sendo vítima de um colega, que a engana e quer enviar uma foto sua com o seio à mostra.

Embora dê pouco tempo para a maioria dos dramas pessoais de cada personagem, já é o suficiente para criarmos aversão à figura de Arturo (Enrique Arce). Sinceramente, não sei como os assaltantes têm paciência para relevar todos os problemas que ele causa. É errado querer que algum refém morra? Creio que sim, mas ele poderia ir para o além-mundo mesmo assim.

Seu enredo está ligado a Mónica (Esther Acebo), amante que está grávida e, durante o confinamento, envolve-se amorosamente com um dos seus algozes, Denver (Jaime Lorente). O romance, apesar de bonito, é difícil de engolir. Mesmo que ele trate-a bem e possa ter algum charme, a evolução do relacionamento é muito rápida e forçada.

Enquanto a situação fica cada vez mais complicada dentro da Casa da Moeda, o Professor, do lado de fora, esforça-se para fazer com que tudo saia como o planejado. Álvaro Morte encarna bem o personagem, que às vezes é um pouco hesitante em excesso. Por mais que seja uma boa pessoa, ele está armando um plano de tal magnitude e poderia ter mais pulso firme.

Também do lado de fora temos o policial Ángel (Fernando Soto), que oscila entre a lealdade e a humilhação. Ele é um claro exemplo de que a atração poderia ser mais sutil em alguns arcos dramáticos. Por mais que se tenha pouco tempo para apresentar a história e fazer com que todos os núcleos sigam em grande velocidade, mais vale ter alguns discursos nas entrelinhas do que explicitar tudo sem muita margem para interpretação.

Para bem e para o mal, La Casa de Papel é uma minissérie direta e explosiva. Não há nada de muito profundo a não ser o túnel que estão construindo. Todavia, tratando-se de um produto para relaxar, ela consegue empolgar como poucas.

 

Nota (0-10): 8

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