Crítica One Day at a Time S2: palavras poderosas

Words can be very powerful, diz Penelope Alvarez (Justina Machado) durante uma das muitas discussões sobre diferentes preconceitos, na segunda temporada de One Day at a Time, comédia da Netflix criada por Gloria Calderon Kellett e Mike Royce.

Com base em sitcom homônima exibida nas décadas de 1970 e 1980, o remake intercala magistralmente falas de um humor capaz de te fazer gargalhar com discursos poderosos sobre diferentes temas espinhosos.

Além de Penelope, a família é composta pela abuela Lydia Riera (Rita Moreno) e as crianças Elena (Isabella Gomez) e Alex (Marcel Ruiz). Como figuras periféricas presentes no dia a dia deles há o médico Leslie Berkowitz (Stephen Tobolowsky), chefe da protagonista, e Schneider (Todd Grinnell), filho do dono do prédio onde moram.

O grupo vive situações ordinárias do cotidiano, alegrias e frustrações muito próximas da realidade de qualquer um. O diferencial da atração é conseguir relatar tais momentos com uma deliciosa dramaticidade de sangue cubano.

Ser migrante não é fácil. Ser imigrante na era Trump, nos Estados Unidos, é ainda pior. E a comédia dramática não se furta de colocar o dedo na ferida sempre que é preciso. Sobrou até para a abuelita, que nunca fez o documento de cidadania e por não ter votado, assim como tantas outras pessoas, acabou ajudando a colocar uma pessoa completamente desequilibrada no cargo mais importante do país e, talvez, do mundo.

A busca pela cidadania norte-americana é apenas um dos arcos deste ano, que começa expondo a dor de ver crianças sofrendo preconceito. É realmente tocante a cena na qual Alex confessa ter reagido de maneira inadequada após ser ridicularizado por ser latino – algo recorrente em sua vida. Como bem sua mãe diz, ninguém falará nada sobre todas as vezes que ele aguentou quieto, apenas sobre o dia que explodiu.

A série também abraça a questão da homossexualidade de maneira muito bonita. Elena tem o apoio do seu núcleo familiar, que inclusive aceita bem o fato de ela querer ter uma namorada. Até mesmo seu pai, Victor (James Martinez), faz uma participação especial para dar início a uma reconciliação. Felizmente, a jovem Gomez corresponde bem à carga dramática imposta à sua personagem e presenteia-nos com uma atuação verdadeira.

Pena ser ofuscada pela dupla Machado e Moreno, que poderiam perfeitamente concorrer aos prêmios de melhor atriz e atriz coadjuvante, respectivamente. Machado entrega uma cena lindamente devastadora no último episódio, além de brilhar quando é abordado o assunto da depressão. Moreno, por sua vez, rouba nossa atenção sempre que aparece. É expansiva na medida certa e propositalmente caricata.

 

Leia a crítica de One Day at a Time S1

 

Entretanto, vale ressaltar que apesar de ótima, a produção peca ao não dar muito sentido para as participações de Leslie e Schneider. Os dois parecem estar em um constante duelo para ver qual é o mais enfadonho.

Também é preciso mencionar o quão significativo é fazer a autocrítica de cubanos sendo preconceituosos com negros. Todavia, ao mesmo tempo, não há nenhum personagem do elenco principal que seja afrodescendente.

São pontos que estão longe de invalidar a obra, um dos mais belos acertos da Netflix.

 

Nota (0-10): 8

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