A realeza britânica reina, mas não governa. Nas últimas décadas, viu seu poder de decisão sobre assuntos que concernem ao povo esvair-se com a chegada de um período de maior igualdade. Todavia, mesmo que a democracia transforme monarcas em figuras presas ao passado, há uma fascinação enorme despertada em boa parcela da população por reis e rainhas.
Esta curiosidade por figuras que mais se aproximam do que se convencionou chamar de divino dá carta branca para a Netflix despender dezenas de milhões com The Crown, série criada e escrita por Peter Morgan, conhecido por obras aclamadas pela crítica como A Rainha.
Se na primeira temporada vimos a coroação e o início do reinado de Elizabeth II (Claire Foy), no segundo ano, que igualmente tem dez episódios, podemos acompanhar uma série de conflitos políticos e pessoas que afligem a monarca, num período que se estende de meados dos anos 1950 até o começo da década seguinte.
Leia a crítica de The Crown S1
É muito interessante como Morgan consegue abordar acontecimentos de um espaço de tempo tão longo sem perder a fluidez ou cair na completa superficialidade. Para isso, divide o material por tramas, poucas delas repartindo atenções. Se nos três primeiros capítulos o foco vai para o matrimônio de Elizabeth com o detestável Philip (Matt Smith), depois muda para Margaret (Vanessa Kirby), detém-se nas dificuldades da rainha, recai até mesmo sobre a figura sedutora de Jackie Kennedy (Jodi Balfour) e, pela primeira vez com ênfase, no príncipe Charles (Julian Baring).
Essa rotação de subtramas nos faz conhecer personagens amáveis e interessantes como Lord Altrincham (John Heffernan), uma voz crítica à atuação da monarca e responsável por mudanças positivas na realeza. Pessoas como Altrincham são necessárias para trazer vida e despertar em nós empatia, algo nem sempre possível com os protagonistas.
A forma de agir pouco passional de Elizabeth só não é mais incômoda de acompanhar que o caráter infantil e cruel do seu marido. Definitivamente, a visão romantizada do príncipe encantado é deixada completamente de lado. É bem irritante assistir ao Duque de Edinburgh cometer uma série de erros e ser perdoado. Mais do que isso, ter seus desejos mesquinhos atendidos.
Felizmente, o roteiro afiado e as excelentes atuações não fazem disso um ponto negativo. Pelo contrário, é um mérito da produção expor dramas internos muito distantes do conto de fadas que tentam nos vender.
Tudo isso ao som de uma trilha sonora que suscita um ar de grandeza, como se qualquer ato, por mínimo que seja, tenha gravidade e mereça nossa total atenção. O que se sobrepõe na série certamente é ser tecnicamente impecável. Os figurinos, os cenários, a fotografia. Tudo é feito com um esmero de encher os olhos. Está em pé de igualdade com a produção caprichada de Game of Thrones, com uma diferença: até agora soube manter muito bem a consistência de seu roteiro sem cair na armadilha de reviravoltas preguiçosas.
Conforme queixa da rainha-mãe (Victoria Hamilton), os membros da sua família viraram marionetes – e The Crown sabe explorar esse choque de percepções entre passado e presente com maestria.
Obs: foi bom ver novamente, mesmo que por breve momento, John Lithgow dar vida a Winston Churchill.
Obs2: alguém mais ficou irritado com a quantidade de cigarros fumados por Antony Armstrong-Jones (Matthew Goode)?
Nota (0-10): 10
Caramba, vc assistiu na velocidade da luz! hahahaha
Essa série é mto bacana mesmo.
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Ficar acordado a madrugada toda assistindo faz diferença haha. Ela é tão boa que passa rápido 🙂
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