Crítica Dark S1: nosso novo vício

Em uma pequena e chuvosa cidade da Alemanha, onde boa parte da população depende dos empregos gerados por uma usina nuclear que será desativada em breve, crianças desaparecem em meio a uma sucessão de eventos inexplicáveis.

O que está acontecendo em 2019 parece muito com o que ocorreu 33 anos antes, em 1986. Também tem ligação com fatos de 66 anos atrás, em 1953. A exatidão das passagens temporais entre as linhas narrativas não é em vão – e cabe aos protagonistas desvendar um quebra-cabeça não tão simples assim.

A trama de Dark, série original da Netflix criada por Baran bo Odar, que também dirige, e Jantje Friese, traz uma gama de mistérios capaz de envolver o público de maneira certeira. Uma mistura de De Volta para o Futuro, Lost e Les Revenants, a produção tem os ingredientes necessários para ser a nova sensação da televisão.

É ótimo poder acompanhar uma série bem produzida que não seja falada em língua inglesa. Se a Netflix teve êxito apenas parcial com a brasileira 3% e a francesa Marseille, parece finalmente ter encontrado um grande sucesso em seu catálogo internacional.

Dark tem a difícil missão de não transformar sua história em um emaranhado de viagens no tempo que perdem o sentido e nos confundem. Na primeira temporada, que tem dez episódios, a atração inseriu elementos de maneira positiva. Todavia, será que conseguirá manter o fôlego sem implodir futuramente?

A cena final já era esperada – e acrescenta mais perguntas a um caderno repleto de questões. O bom é que muito já nos foi respondido no primeiro ano, mesmo que parcialmente. A revelação da verdadeira identidade do pai de Jonas Kahnwald (Louis Hofmann) já na metade da temporada é uma prova de que não é preciso postergar a elucidação de alguns mistérios.

Por outro lado, há fatos já explicados que geram discussão. A possibilidade de viajar para o passado ou o futuro é uma delas. Por que Jonas, que escolhe um dos caminhos dentro da caverna, volta 33 anos no tempo e Ulrich Nielsen (Oliver Masucci), que escolhe o outro, volta 66? Sendo uma encruzilhada de apenas três pontas, uma representando o presente, não deveria uma delas avançar 33 anos?

Outra explicação estranha é com relação à identidade dO Stranger (Andreas Pietschmann). O ator tem uma aparência bem jovial para representar quem representa, sendo que apostava minhas fichas que ele era o filho de quem realmente é, além de pensar que Noah (Mark Waschke) fosse a pessoa que ele é – sei que o parágrafo está escrito de uma maneira bem curiosa, mas tento não dar tantos spoilers assim no texto.

O que ocorre na primeira temporada de Dark guarda semelhanças com o que podemos ver na segunda temporada de The Man in the High Castle, da Amazon. Digo, há fatos que causam certo ruído e será preciso o avançar da trama para sabermos se são problemas narrativos ou meras lacunas ainda não preenchidas por completo.

Há o risco de acontecer o mesmo anteriormente visto em Lost. Ou seja, boa parcela do público simplesmente não entender o fim e, consequentemente, odiá-lo. É uma possibilidade, até mesmo porque Dark traz um grande número de personagens e todos eles têm papel fundamental. Há tantos fios conectados um ao outro que o público precisa de ajuda – como no caso das telas divididas entre o passado e o presente de pessoas da história.

 

Leia o especial sobre 10 cenas marcantes de Lost

 

Para além do roteiro, é preciso mencionar a direção impecável, assim como a fotografia que dá o tom exato e a trilha sonora incrível. O clima vista só é tão eficaz pela união da qualidade técnica dos quesitos mencionados. Finalizo com a excelente música de abertura.

 

 

Nota (0-10): 9

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