Crítica Death Note: pasteurização feita no piloto automático

O mangá Death Note, que é escrito por Tsugumi Ohba e ilustrado por Takeshi Obata, tem como figura central Light, estudante que descobre um caderno sobrenatural com o qual pode matar pessoas se os nomes forem escritos nele enquanto o portador estiver visualizando mentalmente o rosto de quem quer assassinar.

O material fez sucesso e ganhou um anime com direção de Tetsurō Araki, composto por 37 episódios, foi adaptado para filmes em live-action e, agora, virou um telefilme homônimo na Netflix.

Sob o comando de Adam Wingard, a produção faz drásticas mudanças no enredo, algo que desagradou a maioria dos fãs. Mas seria de fato tão ruim assim?

Não sou um purista que acha que mudanças de rumo não possam ocorrer, até porque trata-se de adaptação com liberdade criativa. Todavia, vejo-as como compreensíveis quando buscam lapidar o conteúdo original, desprendendo-se de elementos que não funcionam tão bem na tentativa de melhoramento – o que definitivamente não é o caso em Death Note.

Por mais que devemos avaliar o telefilme como um produto isolado, é difícil não levar em consideração o quanto ele empobreceu o material original e jogou-o no vórtice norte-americano de pasteurizações.

A história evolui no piloto automático durante sua duração de mais de uma hora e meia, sem muito questionamento crítico do que está acontecendo. Light, interpretado por Nat Wolff, encontra Ryuk (Willem Dafoe e Jason Liles) de uma forma bem patética e logo aceita matar outro estudante da sua escola.

A aura sombria dá lugar para uma aventura adolescente que realmente pode funcionar como entretenimento, principalmente para quem não está familiarizado com os conteúdos anteriores. Mesmo assim, é muito problemático.

A pressa para mostrar tantas evoluções na tela em pouco tempo quebra o pacto de credulidade implícito entre obra e espectador. Nesse trato acreditamos que realmente pode haver um livro da morte, mas é preciso algum esforço da atração para todas as reviravoltas serem harmônicas.

Há um romance que nem sempre funciona entre Light e Mia (Margaret Qualley) e L (Lakeith Stanfield) torna-se uma figura bem menos atrativa. O mais engraçado é que há um gancho no fim. Já que é para deixar a história aberta para uma continuação, por que não trabalhá-la com mais calma?

Confesso que assisti apenas a poucos capítulos do anime para entender do que se tratava parte do material já disponível. Logo, não posso me aprofundar em todas as mudanças ocorridas, mas consigo entender a decepção que há.

Para quem teve contato com algo realmente instigante, ver essa obra estéril causa frustração. Mesmo se fosse original, ainda seria um erro.

 

Nota (0-10): 3

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