Crítica Better Call Saul S3: avanços sem sobressaltos

Quando chegou ao seu episódio final, sabíamos que Breaking Bad, série de Vince Gilligan, já havia entrado para a história como uma das produções televisivas mais brilhantes de todos os tempos. Do roteiro costurado com calma à direção primorosa, das atuações premiadas à fotografia exemplar, foi um trabalho como poucos. Para alegria dos fãs, logo estreou o spin-off Better Call Saul, de Gilligan e Peter Gould. A pergunta principal é: este material derivado apresenta a mesma consistência?

Os acontecimentos se passam antes do visto na série-mãe e focam na vida de Jimmy McGill (Bob Odenkirk), advogado trapaceiro de Albuquerque que precisa de muita criatividade para o mundo ao seu redor não desmoronar.

Em sua terceira temporada, a atração foca na relação do protagonista com o irmão Cluck (Michael McKean), que simplesmente o odeia. Cluck é de longe um dos personagens mais interessantes e detestáveis que há. Toda vez que aparece, geralmente para menosprezar Jimmy, dá vontade de esmurrá-lo na cara.

Podemos dizer que demorou bastante para estourar a panela de pressão que é o relacionamento dos dois – algo nos padrões da série, já que todos os conflitos são trabalhados com calma e, muito frequentemente, retomados no futuro.

O que estamos vendo hoje em Game of Thrones, por exemplo, que é uma implosão do cuidado narrativo, é algo que não conseguiria imaginar ocorrendo em Better Call Saul. Todavia, em algum momento essa consistência pode ser ruim?

 

Leia o especial sobre 5 mortes chocantes de Breaking Bad

 

Preciso dizer que até chegar ao quinto capítulo deste ano, Chicanery, quando há um empolgante enfrentamento no tribunal, estava um pouco difícil acompanhar. Já havia esquecido boa parcela do que assisti nas temporadas anteriores e tive dificuldade para me reconectar à história, que, apesar do alto padrão, não tem evolução constante na construção de Saul Goodman.

Isso é algo que foi evidenciado principalmente na segunda temporada, que nos jogou um balde de água fria ao fazer Jimmy assumir mais claramente muitas características de Saul e depois retroceder.

Outro ponto que me causa certo ruído é Mike (Jonathan Banks). Seu jeito quieto, que antes parecia muito intimidador, agora remete mais a cansaço mesmo. É preciso levar em consideração que por mais que Banks seja muito bom, ele já chegou aos 70 anos e isso tem seu peso. Obviamente a idade não é um impeditivo, mas faz diferença na percepção que temos de Mike, principalmente por causa da sua linguagem corporal.

Nessa equação de poucos e marcantes personagens ainda temos Kim (Rhea Seehorn), que ganhou um ótimo arco narrativo, Howard (Patrick Fabian), menos expressivo entre os principais, Nacho (Michael Mando), um quase mochinho entre os vilões, Gus (Giancarlo Esposito), ainda sem tanto espaço, e Hector Salamanca (Mark Margolis), este realmente desprezível.

O fim deste ano deixou um caminho aberto para ótimas reviravoltas. Seria na quarta temporada que Jimmy de fato abraçará a figura de Saul?

 

Nota (0-10): 9

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