A televisão norte-americana, assim como o cinema, vive uma relação um tanto estranha com musicais. É uma forma de atração referenciada com frequência, mas escassa na programação. Anos atrás, tentando embarcar no sucesso do reality show The Voice, a NBC exibiu Smash, uma criação de Theresa Rebeck com produção de Steven Spielberg. A falta de qualidade da série fez com que os números inicialmente animadores logo despencassem.
Por outro lado, a incursão da Fox no mundo da música foi bem mais eficaz. Empire, de Lee Daniels e Danny Strong, viu sua audiência crescer exponencialmente no decorrer da primeira temporada. Foi um verdadeiro fenômeno, que, apesar de perder força posteriormente, continua muito relevante ainda hoje – inclusive dando aval para outro drama musical, Star.
A CW, mais reconhecida pelas suas produções teen, aposta no gênero com Crazy Ex-Girlfriend, de Aline Brosh McKenna e Rachel Bloom. No enredo, Rebecca (Bloom), uma advogada que está infeliz em Nova York, revê seu ex-namorado Josh (Vincent Rodriguez III) e decide mudar-se para West Covina, na Califórnia, onde ele mora.
Por mais que o comportamento de Rebecca fosse muito irritante já no primeiro ano, o talento da atriz que dá vida à personagem amenizava o problema. Além disso, as figuras carismáticas de Paula (Donna Lynne Champlin) e Darryl (Pete Gardner) ajudavam a melhorar o clima.
Na segunda temporada, todavia, a obsessão de Rebecca tragou o show para uma situação complicada, perdeu toda a graça e transformou-se em algo realmente preocupante. Os primeiros dos treze episódios foram os mais difíceis de acompanhar. Após isso, com a separação de Recebba e Josh e a entrada em cena de mais girl power, principalmente com a formação do grupo com Heather (Vella Lovell) e Valencia (Gabrielle Ruiz), parecia que a personagem principal daria um próximo passo e reveria suas atitudes.
Claro que isso não ocorreria se tratando de uma série que dá voltas e voltas cada vez mais alucinadas. A relação do casal foi reatada e com a saída do inexpressivo Greg (Santino Fontana) de cena e a entrada de um substituto um pouco melhor, Nathaniel (Scott Michael Foster), fomos levados a uma corrida alucinada para o altar.
Em sua reta final, as atitudes da protagonista tornaram-se mais intensas e ficou bem claro o quanto é preciso avaliar melhor a saúde mental dela. Discutir o impacto de uma relação desprovida de amor paterno é interessante. Entretanto, a forma como o assunto foi retomado – e misturado com o mais novo trauma causado por Josh – não é exatamente o ideal. A ideia de uma vingança feminina seria válida se fosse conduzida por uma pessoa não tão fragilizada naquele momento. Mesmo sendo ficção, parece irresponsável entrar em uma onda meio Kill Bill com Rebecca no seu atual estado.
É muito triste, de verdade, ver a deterioração de uma história que poderia ser mais divertida. Valencia, por exemplo, foi reinventada na trama e deu certo. O namoro de Darryl avança sem ser puxado para o turbilhão de loucura.
Os números musicais até poderiam melhorar a situação, mas não é o que ocorre. Por mais que tragam ótimas sacadas nas letras, referências diversas, em sua maioria são simplesmente chatos. Não conseguem elevar a qualidade de uma série cada vez mais difícil de acompanhar.
Nota (0-10): 3