Com os descaminhos da democracia brasileira, que agoniza dia após dia, e a eleição do conservador e desprezível Trump para a presidência dos EUA, a possibilidade de um futuro perverso se torna cada vez mais palpável, não parece um pesadelo tão distante.
A realidade que vivemos torna ainda mais assustador o enredo de The Handmaid’s Tale, série criada por Bruce Miller com base no livro homônimo da escritora canadense Margaret Atwood. Na trama, a infertilidade da população, em um futuro próximo, faz com que um regime fundamentalista totalitário derrube o governo dos EUA e instale-se no poder.
As poucas mulheres férteis são raptadas e treinadas para servir como handmaid, posição que as torna escravas reprodutoras. Uma vez por mês, no período fértil, elas são obrigadas a participar de um ritual no qual são estupradas.
June Osborne, que passa a ser chamada de Offred (Elisabeth Moss), é uma delas. Designada para o comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes) e sua esposa Serena Joy (Yvonne Strahovski), ela tenta sobreviver num mundo desumanizado por completo.
Tendo June como peça central, a produção intercala momentos já com o regime religioso instalado com fragmentos de um passado que coincide com o nosso presente. Dessa forma, avança na construção da radicalização em um país com medo de não ter gerações futuras e na consolidação de práticas simplesmente abomináveis.
A história por si só já torna assistir à série algo quase obrigatório. Além disso, ainda somos presenteados com boas atuações, um roteiro certeiro e fotografia, arte e trilha sonora caprichadas.
Com sua inesquecível Peggy Olson em Mad Men, de Matthew Weiner, Moss já havia provado que era uma atriz espetacular. Aqui só é reforçado seu talento em uma imersão na dor de uma mãe que vive longe da filha, do marido, do mundo que conhecera. Sua capacidade de transmitir toda a dramaticidade necessária talvez até seja a fonte de um dos poucos problemas da atração: há um exagero nas cenas de aflição dela, amortecendo um impacto que deveria ser sentido com mais força nos pontos principais.
O segundo ruído ocorre com a presença do seu marido, Luke (O-T Fagbenle). Ele até pode ter sido construído para ser carinhoso, mas Fagbenle nos apresenta um personagem enfadonho. Seria melhor se ele de fato tivesse morrido e June pudesse seguir em frente com Nick (Max Minghella), caso quisesse.
Verdade seja dita, esse é um romance que pode facilmente se tornar completamente irrelevante com o desenrolar dos fatos. Por mais que a protagonista tenha feito pouco pela revolução na primeira temporada, que tem dez episódios, provavelmente ela percorreu um caminho sem volta.
Neste primeiro ano, foi preciso tempo para entender como a sociedade era e passou a funcionar. Compreendido o rolar das engrenagens principais, sobra espaço para dar mais fôlego para o suspense.
E há ótimos arcos para trabalhar. Serena, Fred, Moira (Samira Wiley), Lydia (Ann Dowd) e Ofglen (Alexis Bledel) são muito interessantes. A série tem uma gama de personagens incríveis a serviço de um enredo viciante.
Nota (0-10): 9
Queria ler o livro antes, mas acho q n vou aguentar esperar, vou assistir logo. Kkkk
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