Geralmente há certo receio ao falarmos de adaptações, principalmente tratando-se de um filme tão cultuado quanto Fargo, dos irmãos Coen, de 1996. Felizmente, qualquer dúvida que poderia restar sobre a qualidade da antologia homônima criada por Noah Hawley pode ser enterrada de vez.
Em sua terceira temporada, a produção da FX mostra que continua tão fascinante e magistralmente conduzida quanto nos anos anteriores. A trama é levada com uma precisão incrível, juntando atuações impecáveis, cenários gélidos bem fotografados, uma direção que avança sem qualquer sobressalto e uma trilha que é incorporada ao roteiro de maneira genial.
Sem sombra de dúvidas, Hawley, que também é produtor, roteirista e diretor, consolida-se como uma das grandes mentes da TV – algo também comprovado com Legion, série comandada por ele que estreou este ano e foi sucesso de crítica.
O que mais impressiona, num primeiro momento, é a calma como suas histórias são contadas. Não há a inserção de cena gratuita alguma para reter audiência. A teia de fatos é costurada no seu devido tempo, sem se tornar monótona em parte alguma.
O terceiro capítulo da atual temporada de Fargo, intitulado The Law of Non-Contradiction, é um exemplo do quanto o seu roteiro sabe fazer desvios sem incomodar o telespectador. Gloria, interpretada por Carrie Coon – que recentemente foi espetacular em The Leftovers –, visita o passado do seu padrasto, algo que basicamente acaba não acrescentando praticamente nada no arco principal. Todavia, prende nossa atenção e é instigante da mesma forma.
A personagem de Coon, aliás, é uma das tantas dotada de alguma particularidade marcante. Toda sua pequena história de não ser percebida por detectores de movimento, uma tradução para sua invisibilidade perante as pessoas que a cercam, enriquece muito sua trama.
Outro personagem muito marcante é V.M. Varga, vivido por David Thewlis, que tem chances de abocanhar – e posteriormente vomitar? – alguns prêmios pela sua atuação. O trabalho de Thewlis é instigante e repulsivo na medida certa. Acaba sendo elevado ao papel de protagonista máximo, assim como Billy Bob Thornton foi com seu Lorne Malvo na primeira temporada.
Ewan McGregor se sai muito bem ao interpretar os dois irmãos Stussy. Entretanto, acaba sendo um pouco enfraquecido por personagens mais interessantes, como a Nikki de Mary Elizabeth Winstead – por quem eu torcia muito para ter um fim feliz.
Por sinal, o destino de um dos Stussy, selado um tanto distante do desfecho das demais tramas, demonstra bem que a produção conta a história sem medo. As peças são postas no tabuleiro e podem cair conforme a necessidade do jogo – algo similar ao que podemos ver em Game of Thrones, só que sem ser envolto por tanta comoção.
Vale ressaltar também os detalhes que fazem de Fargo tão única. A abertura, por exemplo, que repete, assim como no filme, o letreiro de ser uma história real, mesmo não sendo, é um atrativo a parte, pois há a preocupação de sempre mudar um pouco a fórmula para ser especial cada vez que aparece.
Formidável na sua concepção e execução, a minissérie já entrou para a lista das produções mais marcantes da história televisiva. É simplesmente brilhante.
Nota (0-10): 10