A jovem Regan MacNeil (Linda Blair) protagonizou cenas que serão pra sempre lembradas na história do cinema. Sua possessão demoníaca em O Exorcista, filme de William Friedkin baseado no livro homônimo de William Peter Blatty, provavelmente seja a mais aterrorizante já filmada. Lançado em 1973, o drama teve uma recepção extremamente positiva do público e da crítica, inclusive venceu os prêmios de melhor roteiro adaptado e som no Oscar, além de ser indicado a oito outras categorias, entre elas melhor filme e direção.
O sucesso fez com que se investisse em uma continuidade da história, resultando em um fracasso retumbante. O Exorcista II: O Herege, de 1977, foi relegado ao esquecimento, assim como O Exorcista III, de 1990. Mais recentemente, em 2004, foi lançado O Exorcista: O Início, que funciona como prelúdio ao primeiro longa e se saiu tão mal quanto os dois anteriores.
Levando em conta esse retrospecto, o primeiro grande temor com relação à série The Exorcist, criada por Jeremy Slater, nem está relacionado a cenas perturbadoras, mas sim à possível nova mancha ao legado do original. Felizmente a produção consegue entreter, apesar de sua mensagem inconsistente.
Para quem está acostumado a assistir a American Horror Story, há uma mudança forte no que funciona no produto final. Se esta sempre soube apresentar com maestria sua mensagem principal, mesmo em meio a alguns roteiros confusos, The Exorcist não consegue trabalhar bem a subjetividade dos atos, apesar de acertar na linearidade dos avanços narrativos.
O melhor exemplo provavelmente seja a cena dentro do metrô. Ao ser assediada por um passageiro homem, Casey (Hannah Kasulka) acaba cedendo ao demônio Pazuzu. É um tanto bizarro que a série nos faça torcer para que ela seja possuída por um figura masculina muito mais velha para se livrar de um jovem que a importuna. A cena do beijo é repulsiva, pois explicita bem o subtexto com traços de pedofilia, que é usado sem a lógica e o cuidado necessários.
Mais adiante, quando Angela (Geena Davis) já foi dominada pelo demônio e conversa com a filha sobre a vergonha de gostar do que aconteceu, fica ainda mais evidente a questão sexual envolvida. Ocorre que há um desleixo ao abordar o assunto, como na cena em que a menina queima sua própria genitália.
Outro ponto negativo é o papel de Davis. A personagem está assistindo à filha sofrer tudo isso e esboça reações muito contidas. Ao ser revelado seu verdadeiro passado, no quinto capítulo, fica ainda mais incompreensível a falta de desespero. Nessa direção duvidosa da atuação, a atriz parece estar constantemente sob efeito de medicamentos.
Em contraponto, ao menos temos as figuras envolventes dos padres Tomas (Alfonso Herrera) e Marcus (Ben Daniels). Enquanto o primeiro tem que lidar com o seu amor por Jessica (Mouzam Makkar), o segundo ainda não se recuperou da perda de um menino no último exorcismo praticado.
É interessante que sexo/sexualidade acabe sendo um tema latente mesmo entre os dois religiosos. A atração deixa claro a homossexualidade de Marcus em uma cena que, além de estabelecer tal ponto, mostra o interesse por um possível envolvimento com outra pessoa.
É algo que, apesar de eu duvidar muito, pode ser explorado na segunda temporada, caso o personagem retorne. O bom é que, ainda que tenha deixado pontas soltas, a série encerrou o arco da família Rance. Um novo caso pode dar ainda mais gás para a produção e talvez consertar as inconsistências apresentadas.
Nota (0-10): 6