Crítica Orange Is the New Black S5: o mundo atrás das grades

Quando Poussey (Samira Wiley) morreu, na reta final da quarta temporada de Orange Is the New Black, série criada por Jenji Kohan com base no livro de Piper Kerman, um sentimento de revolta cresceu, a dor transformou-se em motim.

O dia a dia em Litchfield jamais foi sinônimo de tranquilidade, mas a prisão nunca esteve tão caótica quanto no quinto ano da atração. Guardas viraram reféns, demandas foram construídas coletivamente e iniciou-se uma negociação entra as mulheres do cárcere e o Estado.

É uma escolha bem ousada fazer com que todos os treze episódios sejam focados apenas em um evento. Foi uma decisão positiva se levarmos em conta que desde a morte de Vee (Lorraine Toussaint), na segunda temporada, não tínhamos um arco principal chamativo. Ou seja, por mais que ainda persista um número de tramas paralelas em excesso, ao menos elas estão em melhor consonância do que nas duas últimas temporadas.

Por outro lado, prolongar por tanto tempo esta ação tira um pouco da sua força. É preciso preencher o espaço com sequências nem sempre tão eficazes. Há muitas cenas engraçadas, tantas outras dramáticas, mas também há algumas mal aproveitadas.

Nesse ponto, o principal problema pode ter raiz no número elevado de personagens. A série sempre soube nos apresentar histórias muitos peculiares, comoventes, sedutoras. Acontece que foi acrescentando tantas pessoas com as quais a gente se importa que não há mais tempo suficiente em tela para a maioria delas.

Já viram alguma outra atração na qual a protagonista seja tão inútil quanto a Piper (Taylor Schilling)? Ela teve uma função muito clara na primeira temporada, pois era alguém com o qual pessoas brancas de classe média poderiam se identificar ao entrarem na prisão – algo questionável, todavia usado em muitas produções que abordam uma realidade marginal.

Ocorre que sua trama foi engolida por outras muito mais interessantes. Mesmo que hoje ela não seja tão irritante quanto era no começo, seu principal papel já não é mais necessário. A prova disso é Taystee ganhar as melhores sequências, com um ótimo desempenho de Danielle Brooks, sua intérprete.

Há muitos exemplos do quão problemático é ter um elenco tão grande. Senti muita falta de uma presença maior de Uzo Aduba, sempre magnífica ao dar vida para Crazy Eyes. Sophia (Laverne Cox) apareceu em dois ou três episódios e sumiu. Dayanara (Dascha Polanco) confessou seu crime e também desapareceu.

Claro que é preciso ressaltar que tantas figuras diferentes em cena acabam construindo algo maravilhoso: é como se tivéssemos o mundo todo atrás das grades. Temos personagens que lutam contra o racismo e outros que flertam com o nazismo. Em alguns momentos temos um companheirismo tocante, em outros, uma rivalidade que surge geralmente de um desentendimento bobo. Basicamente, nossa sociedade tão problemática está retratada num ambiente que é, ao mesmo tempo, hostil e acolhedor.

É muito interessante que no meio desta confusão os papéis de quem está certo ou errado não são tão claros. Ter sofrido algum abuso justifica molestar um refém? Até que ponto podemos ficar com raiva da Pennsatucky (Taryn Manning) por estar apaixonada? Uma mãe tem o direito de trair todas suas companheiras para ver a filha? Bayley (Alan Aisenberg) está tendo a punição que merece?

São muitas as perguntas que podemos fazer a partir do que a produção retrata – e isso é o maior trunfo de Orange Is the New Black. Tantas pessoas sofrem expurgos da sociedade, e a dor nos transforma de maneira muito única. Tentar entender isso é muito mais válido do que apenas julgar.

 

Obs: quanto será que a Netflix ganhou para fazer tanta propaganda de Cheetos?

 

Nota (0-10): 7

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