Crítica American Crime S3: pesadelo real

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Coy (Connor Jessup) está vagando pelas ruas quando é abordado por Isaac (Richard Cabral), que lhe oferece uma proposta de emprego tentadora. Caso trabalhe com empenho em uma lavoura de tomates, conseguirá juntar dinheiro para mudar de vida.

Acontece que Coy, jovem pobre e viciado, acaba tendo o mesmo destino de muitas outras pessoas em sua quase totalidade invisibilizadas – geralmente imigrantes ilegais em busca de um sonho americano que se torna pesadelo.

A promessa de lucro vira dívida. É preciso pagar para viver num ambiente desumano, para comer e para ser medicado. Sem se dar conta, passa a sobreviver numa condição análoga à escravidão e, ao querer ir embora, é espancado por Isaac.

Sua jornada de dor, no entanto, não é pior que a de Luis (Benito Martinez), que atravessa a fronteira em busca do filho desaparecido. Sua procura acaba da forma mais horrível possível e dá um recado muito claro: estamos diante de uma produção televisiva feita para exibir o que a sociedade muitas vezes prefere ignorar.

Em sua terceira temporada, American Crime, antologia criada por John Ridley, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado por 12 Anos de Escravidão, é tão impactante e necessária quanto nos anos anteriores.

Diferentes espécies de escravidões modernas são escancaradas pela produção, que novamente reúne um elenco primoroso para dar vida a dores marginalizadas.

Se no primeiro ano da atração Felicity Huffman interpretou uma personagem racista e, no segundo, uma diretora decidida, desta vez é fragilizada pelo roteiro, que a torna refém de uma relação de anos que a deixou sem nada além disso.

Suas atitudes no decorrer da história, entretanto, mostram que o mundo definitivamente não é feito de mocinhos de um lado e bandidos do outro. As linhas que os separam são turvas, às vezes inexistentes – aspecto também evidenciado pelas personagens de Regina King e Lili Taylor.

Todavia, o maior trunfo da produção também é seu maior problema. Se o poder narrativo da antologia continua o mesmo, comparado a temporadas anteriores, sua execução neste ano peca muito ao não unir as tramas de maneira satisfatória.

É realmente incompreensível as histórias de Coy e Luis serem deixadas de lado no meio da temporada. Não apenas essas. Shae (Ana Mulvoy Tem) também tem seu arco encerrado de maneira prematura enquanto que Claire (Taylor) e Gabrielle (Mickaëlle X. Bizet) só aparecem a partir do quarto dos oito capítulos.

A impressão que fica, sinceramente, é que Ridley não teve tempo suficiente para lapidar a trama e nos entregou algo disperso.  Todo potencial dramático do começo vai se perdendo com a despedida de personagens importantes. Pode até não fazer com que a obra seja ruim, mas certamente tira um pouco do brilhantismo visto dos anos anteriores.

 

Nota (0-10): 7

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