Crítica When We Rise: a luta LGBT

Dos primeiros confrontos após Stonewall à decisão da Suprema Corte de permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos EUA. Da epidemia de AIDS, que durante muitos anos foi ignorada pelo Estado, aos direitos de adotar crianças e de ficar com os bens após a morte do companheiro ou da companheira.

When We Rise, minissérie criada por Dustin Lance Black, aborda os principais pontos da luta de lésbicas, gays, bissexuais e trans nas últimas décadas. A atração apresenta todas as mudanças pela ótica de quatro ativistas que vivenciaram isso: Diane Jones (interpretada por Fiona Dourif e Rachel Griffiths), Cleve Jones (Austin P. McKenzie e Guy Pearce), Roma Guy (Emily Skeggs e Mary-Louise Parker) e Ken Jones (Jonathan Majors e Michael Kenneth Williams).

A história inicia na década de 1970, época de efervescência política no campo dos direitos humanos. Havia a luta pelos direitos civis da comunidade negra, pelo fim da opressão contra as mulheres, pela livre expressão sexual de quem não se encaixa no padrão heteronormativo.

Para quem se identifica com o movimento LGBT, os momentos de emoção são muitos. Há um passado de luta tão rico e doloroso que é impossível não se sensibilizar. A minissérie mistura cenas fictícias com imagens de arquivo dos acontecimentos, o que torna o impacto mais significativo. Pena que em alguns momentos não sabe trabalhar muito bem essa fusão.

Na cena que se passa em Washington, na década de 1990, quando o então presidente Bill Clinton e sua esposa visitam os murais feitos em homenagem aos mortos em decorrência das complicações ocasionadas pelo vírus HIV, é inserida uma imagem de Guy Pearce. O resultado realmente ficou bem ruim.

Em outros momentos, as cenas reais e as fictícias destoam entre si. Todavia, esse recurso, mesmo que às vezes falho, parece dar mais legitimidade para a produção. Talvez fosse o caso de apenas regrar mais o uso, lembrando que não se trata de um documentário, e sim uma obra ficcional baseada em fatos reais.

Outro ponto nem sempre tão harmonioso é a passagem de tempo para os personagens. O período abordado na produção é muito grande – logo, passível de estranhamentos. Quando a troca de intérpretes do Cleve Jones ocorre, Ricardo (Rafael de la Fuente) continua sendo interpretado pelo mesmo ator e se antes este parecia mais velho, acaba muito mais novo que o companheiro. Claro que a gente não espera que seja feita uma maquiagem com a qualidade de O Curioso Caso de Benjamin Button, mas poderia ter um esforço um pouco maior.

Voltando para a história, foi muito interessante a presença de Cecilia Chung (Ivory Aquino), mulher transexual. Sua luta é deixada de lado durante muito tempo, o que demonstra a recorrente falta de união dos oprimidos. Algo latente desde o começo. Lésbicas tiveram que brigar pelo seu espaço no movimento feminino. Gays e lésbicas nem sempre pensaram em trabalhar em equipe. Ou seja, há exclusão entre os excluídos. Também há certa sabedoria que lança raízes na falta de impulso.

A imaturidade é inerente à condição de ser jovem. Entretanto, é contrabalanceada com muita força combativa e vontade de inovar, ir mais longe. Com o passar dos anos, aprende-se muito. Todavia, às vezes a sede por mudanças se perde. Essa transformação foi abordada com o personagem de Cleve, um dos pontos mais interessantes para discussão.

Além dos oito episódios, também foi exibido um capítulo extra chamado The People Behind the Story. Por mais que conte basicamente o mesmo, agora sim em tom completamente documental, vale a pena por trazer algumas informações que não entraram na minissérie.

Para quem conhece a história, When We Rise é um compilado para dar orgulho e lembrar que há muito perigo pela frente. Para quem teve um primeiro contato com esse passado de garra, deve servir de combustível para lutar pelo direito de ser quem quiser ser e amar sem medo.

 

Nota (0-10): 8

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