Crítica You Me Her S1: infantil e entediante

O amor, algo aparentemente tão simples, é um sentimento que gera infindáveis discussões. Está certo ter sentimento de posse? O que é liberdade num relacionamento? Monogamia é algo bom, desnecessário?

Quando vamos falar de poliamor, a situação fica ainda mais complicada. Somos obrigados a racionalizar o irracional, instintivo, e algo que deveria fluir naturalmente geralmente é moldado para se ajustar ao lado ou contra os preceitos da sociedade.

Acaba que o amor ganha regras – e isso gera ruídos. Há quem queira amar apenas uma pessoa e vendo isso como contraditório ao espírito libertador, aceite uma abertura desconfortável. Por outro lado, há quem queira viver muitos amores e aprisione-se a um. Ou seja, muitas pessoas acabam não sendo fiéis aos seus desejos.

No fim das contas, um sentimento tão bonito vira objeto de disputa, torna-se, em meio aos preconceitos e às opressões, político. É tensionado para ambos os lados, sendo um entre tantos tabus da sociedade quando desviante do que é aceito pela maioria.

Nesse cenário, o poliamor acaba não tendo espaço da ficção ocidental. Logo, a estreia de You Me Her, série criada por John Scott Shepherd, gera muita curiosidade. O trabalho tem como trama central um casal da faixa dos trinta anos que, em meio a uma pequena crise no relacionamento, apaixona-se por uma terceira pessoa.

Na história, Jack (Greg Poehler) resolve contratar os serviços de Izzy (Priscilla Faia), acompanhante que não transa com os clientes. Com remorso, pois sentiu-se atraído e beijou ela, conta para a mulher, Emma (Rachel Blanchard), que igualmente paga para sair com Izzy. Acaba que a esposa também se apaixona, assim como Izzy pelos dois. A situação um tanto inusitada, que se desenrola na meia hora inicial da primeira temporada, acaba avançando rapidamente no decorrer dos dez episódios.

A produção busca trazer o tema da forma mais suave possível. Não haveria problema algum em querer dar leveza para a trama, se isso não fosse feito de maneira tão infantilizada. O roteiro tem qualidade equiparada a de comédias românticas completamente dispensáveis que são esquecidas no minuto seguinte ao término.

Soa simplesmente nada crível que todo o drama vivido no primeiro ano se passe em cerca de uma semana. Para um casal que não vislumbrava a ideia de abrir o seu relacionamento, Jack e Emma basicamente mudaram de um extremo ao outro quase que do dia para a noite.

Izzy, que segue na mesma onda, tem atitudes que nos fazem rir de tão absurdas. O episódio final, por exemplo, traz uma regravação vergonhosa de inúmeras cenas já vistas que só diferem pelo número de pessoas envolvidas.

Os vizinhos, no entanto, apresentam o caso mais preocupante. Não há humor algum nas atitudes de Ava (Laine MacNeil) e sua mãe. O texto, ao tentar fazer graça, acaba construindo situações vergonhosamente ridículas.

Sem direção e atores que consigam salvar roteiro tão deplorável, uma experiência que poderia ser enriquecedora mostra-se simplesmente dispensável. Em mãos mais competentes, poderia ser uma das atrações mais envolventes que temos. Na atual situação, seu frescor perde-se em meio a fórmulas baratas.

 

Nota (0-10): 2

1 comentário Adicione o seu

  1. Thalita disse:

    Só acho que tentaram tocar num assunto muito delicado, considerado tabu, em uma temporada muito curta. Não gostei de como mudaram de ideia do dia pra noite em relação a ter uma terceira pessoa no relacionamento (se a temporada fosse mais longa, talvez teria sido melhor abordado); mas só pela audácia de custear a produção de um roteiro desses já vale a pena assistir. Tabus têm de ser quebrados, mas acho que eles não quiseram investir tanto caso houvesse muita retaliação. 2 de 10 acho um exagero, daria um 6. Mas claro, cada um com sua opinião.

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