Crítica The Night Manager: corrupção

O que há por trás de um milionário que vive cercado de amigos e não raramente é fotografado ajudando pessoas em campos de refugiados? Muito além da fachada de homem bem-sucedido e humanitário, Richard Roper – interpretado pelo ótimo Hugh Laurie – está disposto a matar direta e indiretamente seja quem for para ter mais poder.

Por mais que o personagem não seja exatamente surpreendente, funciona bem e serve como força motriz para The Night Manager, minissérie adaptada por David Farr com base na obra homônima de John le Carré.

A produção, dividida em seis capítulos, foi desenvolvida com grande esmero. A abertura, que faz alusão ao luxo financiado pela guerra, já dá o tom do cuidado técnico da atração, que tem trilha sonora de Victor Reyes e direção de todos os seus episódios por Susanne Bier – responsável, entre outros filmes, pelo interessante Em um mundo melhor, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2011.

Em oposição a Roper, Tom Hiddleston entrega grande performance com Jonathan Pine, gerente noturno de hotéis inteligente e sedutor. O roteiro, que avança sempre de forma instigante, só peca ao dar uma motivação de vingança para o protagonista. O envolvimento amoroso de Pine com Sophie (Aure Atika) soa inverossímil, pois é construído às pressas. Ele poderia sentir a morte da personagem com tanta ou mais intensidade mesmo se não tivesse dormido com ela, já que foi o responsável pelo assassinato, de certa forma, ao passar adiante documentos secretos.

O primeiro relacionamento acaba enfraquecendo um pouco o segundo, entre Jonathan e Jed (Elizabeth Debicki) – a repetição tira a força da relação amorosa, que parece basicamente a fórmula fácil na qual se junta o herói atraente com a prisioneira sexy que esconde uma vida de sofrimento.

Felizmente, isso é apenas uma parte da história, que, verdade seja dita, poderia explorar mais a corrupção de autoridades britânicas. Para quem está acostumado com notícias de desvios de conduta por parte dos políticos brasileiros, muitas vezes parece que o Brasil inventou, patenteou e é o único consumidor de mal tão impregnado nas nossas instituições. O que é um grande engano, claro.

Explorar ainda mais a corrupção possibilitaria mais tempo de tela para Angela Burr, de longe a personagem mais interessante da trama, com interpretação merecedora de prêmios de Olivia Colman. Há uma força em seu olhar, mesmo quando perdido. Ela é intrigante e maravilhosamente falha – o fim da minissérie, quando seu senso de justiça se mostra questionável, evidencia isso.

The Night Manager lembra em alguns pontos The Honourable Woman, outra atração britânica que vale ser assistida. São a prova de que é possível criar uma história envolvente em poucos capítulos. Abaixo, encerro com a maravilhosa abertura.

Nota (0-10): 9

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