Crítica The Man in the High Castle S2: um mundo diferente

A ficção, de tempos em tempos, nos apresenta desenrolares alternativos para a II Guerra Mundial. Tarantino, com a habitual violência em seus filmes, traz um fim um pouco diferente para Hitler em Bastardos Inglórios. Miguel Sanches Neto, no interessante livro A Segunda Pátria, mostra um Brasil de Vargas alinhado com o Terceiro Reich, onde são postos em prática princípios do nazismo, como o racismo, o antissemitismo e a eugenia.

Muitos anos antes, em 1962, o escritor Philip K. Dick lançou The Man in the High Castle, obra que imagina um mundo no qual o Eixo venceu e há duas superpotências no poder: Alemanha e Japão. Adaptado com algumas mudanças significativas, o romance tornou-se série homônima nas mãos de Frank Spotnitz.

Em sua segunda temporada, a produção da Amazon não decepciona e mais uma vez mostra o porquê de sua popularidade. Os personagens ganham força em suas trajetórias, há um cuidado estético ao recriar a década de 1960 e, sobretudo, o suspense em tela cresce no decorrer dos dez episódios.

Até chegarmos ao clímax, no entanto, há avanços questionáveis no roteiro. Um dos pontos fortes é a separação dos três protagonistas – Juliana Crain (Alexa Davalos) em Nova York, Frank Frink (Rupert Evans) em São Francisco e Joe Blake (Luke Kleintank) em Berlim – e a subsequente criação de tramas individuais. Todavia, às vezes há certa previsibilidade nos acontecimentos, que se acomodam facilmente às necessidades dos personagens principais.

Juliana, por exemplo, logo consegue estreitar seus laços de amizade com as mulheres que conhece. Cada uma delas carrega seus dramas, que são jogados de bandeja no colo da senhorita Crain. Ela não precisa perspicácia maior além de empurrar a xícara um pouquinho para o lado – o resto o roteiro faz questão de facilitar.

Apesar disso, o saldo é positivo, principalmente por terem afastado ela do típico triângulo amoroso e dado ênfase no seu papel entre a resistência e os nazistas. A aproximação com Obergruppenführer John Smith (Rufus Sewell) e sua família deu novo gás para a missão.

Aliás, dar mais destaque para a família Smith talvez tenha sido o grande trunfo do ano. A partir da doença de Thomas (Quinn Lord), é abordado um dos atos mais desumanos que pode ser praticado, e ver o desespero de Helen (Chelah Horsdal) é de partir o coração.

Quem também ganhou cenas tocantes foi Nobusuke Tagomi (Cary-Hiroyuki Tagawa), que viajou para uma realidade alternativa. Suas idas para o mundo onde o nazismo foi derrotado levantam alguns questionamentos. Se as viagens não são apenas da mente, mas também do corpo, os personagens não deveriam, caso estejam vivos em ambos, dar de cara com o seu outro eu? O que exatamente faz com que consigam transitar entre esses mundos? Quantos há?

A questão dos filmes também ficou mais complicada. Há alguns vindos dessa realidade paralela. Porém, há outros que mostram o futuro de onde se passa a trama principal. Entretanto, ao que parece, ao menos uma previsão já falhara. Logo, seria o vídeo do futuro, em verdade, outra realidade na qual o Eixo também tenha vencido?

Há questões abertas que, se tivermos sorte, serão ao menos em parte respondidas na terceira temporada. Que ela chegue logo, até mesmo porque, num mundo de Trumps, Temers e Bolsonaros, vislumbrar o pior dos cenários pode servir de alerta para sermos mais proativos da construção do nosso futuro. É preciso resistir.

 

Nota (0-10): 8

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