Crítica Mozart in the Jungle S3: a música como protagonista

“Eu não gosto disso”, reforça o detento de Rikers Island, maior complexo carcerário de Nova York. Logo depois, senta em frente à orquestra e descobre estar enganado: “eu gostei porque é algo que fiz pela primeira vez na vida. Nunca tive uma experiência como essa”. Ele é um entre tantos que apreciaram a ficcional New York Symphony, que tocou músicas compostas pelo francês Olivier Messiaen em um campo de concentração na II Guerra Mundial.

Apenas o episódio Not Yet Titled, filmado em estilo documental, no qual a realidade e a ficção se entrelaçam de maneira brilhante, já faz valer a terceira temporada de Mozart in the Jungle, série criada por Alex Timbers, Roman Coppola, Jason Schwartzman e Paul Weitz e baseada no livro de memórias Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music, de Blair Tindall.

Além desse capítulo, um dos mais comoventes já feitos, temos outros que elevam a música ao status de protagonista máxima. As incríveis apresentações não estão ali apenas como complemento às histórias dos personagens. Pelo contrário, eles que estão a serviço das melodias.

O terceiro ano foi dividido muito claramente em dois momentos. O primeiro, que se passa essencialmente em Veneza, serve como uma fuga resultante dos acontecimentos finais da temporada anterior. Levar parte do elenco para uma trama que se desenrolará em pouco tempo, deixando o conflito principal em suspenso, é uma manobra arriscada. E deu certo. A participação de Monica Bellucci foi um dos motivos para o êxito. Todavia, o que faz com que qualquer história da série seja tão apaixonante é o carisma dos personagens principais.

Seja a chorosa Hailey (Lola Kirke) ou o dramático maestro Rodrigo (Gael García Bernal); seja Cynthia (Saffron Burrows), Gloria (Bernadette Peters), Bob (Mark Blum), Thomas (Malcolm McDowell) ou Warren (Joel Bernstein). Todos são dotados de certo charme que nos faz assistir episódio após episódio ininterruptamente.

Entre uma apresentação e outra, os conflitos vão se desencadeando sem a necessidade de grandes vilões. As lutas individuais têm brilho próprio e forma-se um mosaico de situações unido pela música – sem criar ruído entre as diferentes tramas.

Em sua alma, a série Mozart in the Jungle é Rodrigo – audaciosa, inteligente, sedutora, divertidamente dramática e tocante. Merece muito mais reconhecimento do público e da crítica, além de outras tantas temporadas tão boas quanto as três primeiras.

 

Nota (0-10): 10

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