Stella Gibson, personagem de Gillian Anderson, é forte e inteligente – atributos necessários para uma boa protagonista de série investigativa. Além disso, acumula particularidades que fazem dela tão especial: transa com a pessoa que quiser, tenta proteger as outras mulheres da trama e, sempre que necessário, denuncia o recorrente machismo.
Ela é, com todos os seus defeitos e as suas qualidades, a força principal que movimenta The Fall, série criada e escrita por Allan Cubitt. Apesar de Anderson não entregar uma performance tão diferente de sua Dra. Bedelia, de Hannibal, encaixa-se muito bem no papel.
Em oposição a ela, Jamie Dornan encarna Paul Spector, assassino em série que, no decorrer da primeira temporada, pratica vários crimes, nem todos de forma perfeita. A instigante caçada para capturar ele se transforma, no segundo ano, em pequenas e sucessivas falhas e, neste, em um final muito aquém para a sua trajetória.
É realmente curioso contar a história após Spector ser pego. Todavia, perdeu-se a oportunidade de investir em algo diferenciado. A primeira grande decepção foi o arco de amnésia de Paul. A sua prisão, que poderia ter desdobramentos muito interessantes, uma progressão dos seus problemas, acabou gerando como questionamento maior o mistério se a doença era falsa ou não.
A discussão do impacto de todo o ocorrido na sua família, algo perfeito para ser aproveitado dramaticamente, não ganhou o merecido destaque. Sally Ann Spector (Bronagh Waugh) teve sua vida destruída e foi capaz de um ato extremo. O que sabemos além disso? Não muito, já que foi considerado mais relevante o caminho de sofrimento de Katie Benedetto (Aisling Franciosi).
Por mais que seja interessante mostrar o poder de influência de Paul – e, consequentemente, o quão influenciável é a jovem –, a história já dava indícios claros de esgotamento criativo na temporada passada.
Katie passou a fazer o que bem quisesse, assim como outros tantos, fragilizando a imagem da polícia, que cada vez mais dava ares de desleixo. Foram sucessivos erros na operação contra Spector – que soaram como soluções fáceis para alcançar determinados objetivos do roteiro.
A história de Paul foi investigada mais a fundo e as explicações adicionais para as suas perversidades pareceram desnecessárias. Um passado de perda e abandono era instigante. Acrescentar o abuso no orfanato, já na reta final, não teve grande impacto.
No decorrer das três temporadas, a produção apresentou uma visível perda de fôlego. Mesmo assim, saiu-se bem por ir muito além da investigação e dar espaço para as angústias humanas.
Nota (0-10): 5